O Primo Basílio - Cap. 8: CAPÍTULO VIII Pág. 226 / 414

Ela, pelo canto do olho, observava-o; tinha uma paixão por ela, aquele homem, que horror! Achava-o medonho, com o seu ventre pançudo, a perninha curta. A lembrança de Basílio atravessou-a, a sua linda figura!... - e bateu nos vidros impaciente, com pressa de o ver.

O trem partiu enfim. O Rossio reluzia ao sol; do americano, parado à esquina, gente descia apressada, de calças brancas, vestidos leves, vinda de Belém, de Pedrouços; pregões cantavam. - Todos ali ficavam nas suas famílias, nas suas felicidades; só ela partia!

Na Rua Ocidental, viu vir a D. Camila - uma senhora casada com um velho, ilustre pelos seus amantes. Parecia grávida; e adiantava-se devagar, com a face branca satisfeita, uma lassitude do corpo arredondado, passeando um marmanjozinho de jaqueta cor de pinhão, uma pequerrucha de sainhas tufadas, e adiante uma ama, vestida de lavradeira, empurrava um carrinho de mão onde um bebê se babava. E a Camila, feliz, vinha tranquilamente pela rua expondo as suas fecundidades adúlteras! Era muito festejada; ninguém dizia mal dela; era rica, dava soirées... - "O que é o mundo!" - pensava Luísa.

O trem parou à porta do Paraíso, era meio-dia. A portinha em cima estava fechada: e a patroa apareceu logo, ciciando que sentia muitíssimo, mas só o senhor é que tinha a chavezinha; se a senhora quisesse descansar... Nesse momento outra carruagem chegou, e Basílio apareceu galgando os degraus.

- Até que enfim! - exclamou abrindo a porta. - Por que não vieste ontem?...

- Ah! Se tu soubesses...

E, agarrando-lhe os braços, cravando os olhos nele:

- Basílio, sabes, estou perdida!

- Que há?

Luísa atirara o saco de marroquim para o canapé, e, de um fôlego, contou-lhe a história da carta apanhada nos papéis; as dele roubadas, a cena no quarto.





Os capítulos deste livro