O Primo Basílio - Cap. 9: CAPÍTULO IX Pág. 252 / 414

- Isto é se queres - acrescentou - senão trata de te arranjar noutra parte, e deita as cartas para o fundo da arca. Que diabo! Tu vais ver, se não te convém, safas-te...

Juliana decidiu ir, a "ver".

E reconheceu logo, que aquela finória da tia Vitória tinha carradas de razão.

Luísa, com efeito, parecia resignada. Sebastião tinha ido para Almada, outra vez. Mas como estava decidida, apenas ele voltasse, a ir a casa dele uma manhã, atirar-se-lhe aos pés, contar-lhe tudo, tudo, suportava Juliana, refletindo: -"E apenas por dias!" - Por isso não lhe disse uma palavra. Para quê? O que tinha a fazer era pagar-lhe e pô-la fora, não é verdade? Enquanto o não pudesse fazer, era aguentar e calar. Até que Sebastião voltasse...

Entretanto evitava vê-la. Nunca a chamava. Não saía da alcova de manhã, sem a ter sentido fora no quarto encher o banho, sacudir os vestidos. Ia para a sala de jantar com um livro, e nos intervalos não levantava os olhos das páginas. E durante todo o dia conservava0se no quarto com a porta fechada, lendo, costurando, pensando em Jorge - às vezes também em Basílio com ódio, desejando a volta de Sebastião, e preparando a sua história.

Juliana, uma manhã, encontrou Luísa no corredor trazendo para o quarto o regador cheio de água.

- Oh, minha senhora! Por que não chamou? - exclamou, quase escandalizada.

- Não tem dúvida - disse Luísa.

Mas Juliana seguiu-a ao quarto, e cerrando a porta:

- Ó minha senhora! - disse muito ofendida. - Isto assim não pode continuar. A senhora parece que tem medo de me ver, credo! Eu voltei para fazer o meu serviço como dantes... Verdade, verdade, naturalmente, sempre espero que a senhora faça o que prometeu... E lá largar as cartas não largo, sem ter seguro o pão da velhice.





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