O Primo Basílio - Cap. 9: CAPÍTULO IX Pág. 257 / 414

com um olhar quase aterrado, as passeatas do Paula pela rua, o embasbacamento obeso da carvoeira, as Azevedos por trás das bambinelas de cassa! Como eles todos gritariam: - "Bem dizíamos nós! Bem dizíamos nós!" Que desgraça! - Ou então via de repente Jorge, terrível, fora de si, com as cartas na mão; e encolhia-se como se lá estivesse sob a cólera dos seus punhos fechados.

Mas o que a torturava mais era a tranquilidade de Juliana - espanejando, cantarolando, servindo-a ao jantar de avental branco. Que tencionava ela? Que preparava ela? As vezes vinha-lhe uma onda de raiva; se fosse forte ou corajosa, decerto atirar-se-lhe-ia ao pescoço, para a esganar, arrancar-lhe a carta! Mas pobre dela; era "uma mosquinha"!

Justamente, numa dessas manhãs, Juliana entrou no quarto - com o vestido preto de seda no braço. Estendeu-o na causeuse, e mostrou a Luísa, na saia, ao pé do último folho, um rasgão largo que parecia feito com um prego; vinha saber se a senhora queria que o mandasse à costureira.

Luísa lembrava-se bem; rasgara-o uma manhã no Paraíso a brincar com Basílio!

- Isto é fácil de arranjar - dizia Juliana, passando de leve a mão espalmada sobre a seda, com lentidão de uma carícia.

Luísa examinava-o, hesitante:

- Ele também já não está novo... Olhe, guarde-o pra você!

Juliana estremeceu, fez-se vermelha:

- Oh, minha senhora! - exclamou. - Muito agradecida! É um rico presente. Muito agradecida, minha senhora! Realmente... - E a voz perturbava-se-lhe.

Tomou-o nos braços, com cuidado, correu logo à cozinha. E Luísa, que a seguira pé ante pé, ouviu-a dizer toda excitada:

- É um rico presente, é o que há de melhor. E novo! Uma rica seda! - Fazia arrastar a cauda pelo chão, com um frufru. Sempre o invejara; e tinha-o agora, era o seu vestido de seda! - É de muito boa senhora, Sra.





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