Mas o que a torturava mais era a tranquilidade de Juliana - espanejando, cantarolando, servindo-a ao jantar de avental branco. Que tencionava ela? Que preparava ela? As vezes vinha-lhe uma onda de raiva; se fosse forte ou corajosa, decerto atirar-se-lhe-ia ao pescoço, para a esganar, arrancar-lhe a carta! Mas pobre dela; era "uma mosquinha"!
Justamente, numa dessas manhãs, Juliana entrou no quarto - com o vestido preto de seda no braço. Estendeu-o na causeuse, e mostrou a Luísa, na saia, ao pé do último folho, um rasgão largo que parecia feito com um prego; vinha saber se a senhora queria que o mandasse à costureira.
Luísa lembrava-se bem; rasgara-o uma manhã no Paraíso a brincar com Basílio!
- Isto é fácil de arranjar - dizia Juliana, passando de leve a mão espalmada sobre a seda, com lentidão de uma carícia.
Luísa examinava-o, hesitante:
- Ele também já não está novo... Olhe, guarde-o pra você!
Juliana estremeceu, fez-se vermelha:
- Oh, minha senhora! - exclamou. - Muito agradecida! É um rico presente. Muito agradecida, minha senhora! Realmente... - E a voz perturbava-se-lhe.
Tomou-o nos braços, com cuidado, correu logo à cozinha. E Luísa, que a seguira pé ante pé, ouviu-a dizer toda excitada:
- É um rico presente, é o que há de melhor. E novo! Uma rica seda! - Fazia arrastar a cauda pelo chão, com um frufru. Sempre o invejara; e tinha-o agora, era o seu vestido de seda! - É de muito boa senhora, Sra.