O Primo Basílio - Cap. 9: CAPÍTULO IX Pág. 256 / 414

- Canalha! - murmurou, pensando em Basílio.

Talvez, todavia, não tivesse respondido no mesmo dia! Esperou ainda, mas desconsolada, já sem fé. Nada! Nem na outra manhã, nem nas seguintes! O infame!

Veio-lhe então a idéia de loteria - porque insensivelmente a esperança tornara-se-lhe necessária. A primeira vez que saiu comprou umas poucas de cautelas. Apesar de não ser religiosa nem supersticiosa, meteu-as debaixo da peanha de um São Vicente de Paula que tinha sobre a cómoda, na alcova. Não se perdia nada. Examinava-as todos os dias, somava os algarismos a ver se davam "nove, noves fora, nada", ou um número par - que é de bom agouro! E aquele contato diário com a imagem do santo levando-a a pensar decerto na proteção inesperada do céu, fez uma promessa de cinquenta missas se as cautelas fossem premiadas!...

Saíram brancas - e então desesperou de tudo; abandonou-se a uma inação em que sentia quase uma voluptuosidade, passando dias sem se importar, quase sem se vestir, desejando morrer, devorando nos jornais todos os casos de suicídios, de falências, de desgraças - consolando-se com a idéia de que nem só ela sofria, e que a vida em redor, na cidade, fervilhava de aflições.

Às vezes, de repente, vinha-lhe uma pontada de medo. Decidia-se então de novo a abrir-se com Sebastião; depois pensava que seria melhor escrever-lhe; mas não achava as palavras, não conseguia arranjar uma história racional; vinha-lhe uma cobardia; e recaia na sua inércia, pensando: "amanhã, amanhã..."

Quando, só, no seu quarto, se chegava por acaso à janela, punha-se a imaginar o que diria a vizinhança, quando se soubesse! Condená-la-iam? Lamentá-la-iam? Diriam: - "Que desavergonhada"? Diriam: - "Coitadinha"? E por dentro dê vidraça seguia,





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