O Primo Basílio - Cap. 9: CAPÍTULO IX Pág. 258 / 414

Joana, é de um anjo!

Luísa voltou ao quarto, toda alvoroçada; era como uma pessoa perdida de noite, num descampado - que de repente, ao longe, vê reluzir um clarão de vidraça! Estava salva! Era presenteá-la, era fartá-la! Começou logo a pensar no que lhe podia dar mais, pouco a pouco: o vestido roxo, roupas brancas, o roupão velho, uma pulseira!

Daí a dois dias - era um domingo - recebeu um telegrama de Jorge:

"Parto amanhã do Carregado. Chego pelo comboio do Porto às seis." Que sobressalto! Voltava, enfim!

Era nova, era amorosa - e no primeiro momento todos os sustos, as inquietações desapareceram sob uma sensação de amor e de desejo, que a inundou. Viria de madrugada, encontrá-la-ia deitada - e já pensava na delícia do seu primeiro beijo!...

Foi-se ver ao espelho: estava um pouco magra, talvez com a fisionomia um pouco fatigada... E a imagem de Jorge aparecia-lhe então muito nitidamente, mais queimada do sol, com os seus olhos ternos, o cabelo tão anelado! Que estranha coisa! Nunca lhe apetecera tanto vê-lo. Foi logo ocupar-se dele; o escritório estaria bem arranjado? Quereria um banho morno; seria necessário aquecer a água na tina grande!... E ia e vinha, cantarolando, com um brilho exaltado nos olhos.

Mas a voz de Juliana, de repente no corredor, fê-la estremecer. Que faria ela, a mulher? Ao menos que a deixasse naqueles primeiros dias gozar a volta de Jorge, tranquilamente!... Veio-lhe uma audácia, chamou-a.

Juliana entrou, com o vestido de seda novo, movendo-se cuidadosamente:

- Quer alguma coisa, minha senhora?

- O Sr. Jorge volta amanhã... - disse Luísa.

E suspendeu-se; o coração batia-lhe fortemente.

- Ah! - fez Juliana. - Bem, minha senhora.

E ia sair

- Juliana! - fez Luísa, com a voz alterada.





Os capítulos deste livro