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Capítulo 2: CAPÍTULO II

Página 30
Eram vizinhos. Acácio tocava então rabeca, e, como Geraldo tocava flauta, faziam duos, pertenciam mesmo à Filarmônica da Rua de São José. Depois Acácio, quando entrou nas repartições do Estado, por escrúpulo e por dignidade, abandonou a rabeca, os sentimentos ternos, os serões joviais da Filarmônica. Entregou-se todo à Estatística. Mas conservou-se muito leal a Geraldo; continuou mesmo a Jorge aquela amizade vigilante; fora padrinho do seu casamento, vinha vê-lo todos os domingos, e, no dia dos seus anos, mandava-lhe pontualmente, com uma carta de felicitações, uma lampreia de ovos.

- Aqui nasci - repetiu, desdobrando o seu belo lenço de seda da Índia - e aqui conto morrer.

E assou-se discretamente.

- Isso ainda vem longe, Conselheiro!

Ele disse, com uma melancolia grave:

- Não me arreceio dela, meu Jorge. Até já fiz construir, sem vacilar, no Alto de São João, a minha última morada. Modesta, mas decente. É ao entrar, no arruamento à direita, num lugar abrigado, ao pé da choça dos Veríssimos amigos.

- E já compôs o seu epitáfio, Sr. Conselheiro? - perguntou Julião, do canto, irônico.

- Não o quero, Sr. Zuzarte. Na minha sepultura não quero elogios. Se os meus amigos, os meus patrícios entenderem que eu fiz alguns serviços, têm outros meios para os comemorar: lá têm a imprensa, o comunicado, o necrológio, a poesia mesmo! Por minha vontade quero apenas sobre a lápide lisa, em letras negras, o meu nome - com a minha designação de Conselheiro - a data do meu nascimento e a data do meu óbito.

E com um tom demorado, de reflexão:

- Não me oponho todavia a que inscrevam por baixo, em letras menores:

"Orai por ele!"

Houve um silêncio comovido, e à porta uma voz fina, disse:

- Dão licença?

- Oh, Ernestinho!.

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Capa do livro O Primo Basílio
Páginas: 414
Página atual: 30

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I 1
CAPÍTULO II 24
CAPÍTULO III 45
CAPÍTULO IV 70
CAPÍTULO V 121
CAPÍTULO VI 154
CAPÍTULO VII 191
CAPÍTULO VIII 213
CAPÍTULO IX 251
CAPÍTULO X 273
CAPÍTULO XI 293
CAPÍTULO XII 327
CAPÍTULO XIII 346
CAPÍTULO XIV 366
CAPÍTULO XV 387
CAPÍTULO XVI 400
"O PRIMO BASÍLIO" (CARTA A TEÓFILO BRAGA) 411