O Primo Basílio - Cap. 2: CAPÍTULO II Pág. 29 / 414

da ciência da riqueza e a sua distribuição, segundo os melhores autores, e como subtítulo: Leituras do serão! Havia apenas meses publicara a Relação de todos os ministros de Estado desde o grande Marquês de Pombal até nossos dias, com datas cuidadosamente averiguadas de seus nascimentos e óbitos.

- Já esteve no Alentejo, Conselheiro? - perguntou-lhe Luísa.

- Nunca, minha senhora - e curvou-se. - Nunca! E tenho pena! Sempre desejei lá ir, porque me dizem que as suas curiosidades são de primeira ordem.

Tomou uma pitada de uma caixa dourada, entre os dedos, delicadamente, e acrescentou com pompa:

- De resto, país de grande riqueza suma!

- Ó Jorge, averigua quanto é o partido da Câmara em Évora - disse Julião do canto do sofá.

O Conselheiro acudiu, cheio de informações, com a pitada suspensa:

- Devem ser seiscentos mil réis, Sr. Zuzarte, e pulso livre. Tenho-o nos meus apontamentos. Por que, Sr. Zuzarte, quer deixar Lisboa?

- Talvez!...

Todos desaprovaram.

- Ah! Lisboa sempre é Lisboa! - suspirou D. Felicidade.

- "Cidade de mármore e de granito", na frase sublime do nosso grande historiador! - disse solenemente o Conselheiro.

E sorveu a pitada com os dedos abertos em leque, magros, bem tratados.

D. Felicidade disse então:

- Quem não era capaz de deixar Lisboa nem à mão de Deus Padre, era o Conselheiro!

O Conselheiro, voltando-se vagarosamente para ela, um pouco curvado, replicou:

- Nasci em Lisboa, D. Felicidade, sou lisboeta de alma!

- O Conselheiro - lembrou Jorge - nasceu na Rua de São José.

- Número setenta e cinco, meu Jorge. Na casa pegado àquela em que viveu, até casar, o meu prezado Geraldo, o meu pobre Geraldo!

Geraldo, o seu pobre Geraldo era o pai de Jorge. Acácio fora o seu íntimo.





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