O Primo Basílio - Cap. 13: CAPÍTULO XIII Pág. 350 / 414

Sim? Como estava?

De veludo. Não sabia se roxo, se azul-escuro. Afirmar-se-ia, e viria dizer...

Mas quando o pano subiu, ficou sentado por trás de Luísa começando logo a explicar - que aquela (Siebel, colhendo flores no jardim de Margarida), posto que segunda dama, ganhava quinhentos mil réis por mês...

- Mas apesar destes ordenadões morrem quase sempre na miséria - disse com reprovação. - Vícios, ceias, orgias, cavalgadas...

A portinha verde do jardim abriu-se, e Margarida entrou devagar, desfolhando o malmequer da legenda, caracterizada de virgem, com as duas longas tranças louras. Cismava, falava só, amava: a doce criatura sente em volta de si o ar pesado, e quereria bem que sua mãe voltasse!

Os olhos de Luísa encheram-se então de melancolia, com a saudosa balada do rei de Tule; aquela melodia dava-lhe a vaga sensação de um pálido país de amores espirituais, banhado de luares frios, longe, no Norte, junto a um mar gemente - ou de tristezas aristocráticas, cismadas num terraço, sob a sombra de um parque...

Mas o Conselheiro preveniu-as, dizendo:

- Agora é que é! Reparem. Agora é o ponto capital.

De joelhos, diante do cofre das jóias, a dama requebrava-se, garganteando; apertava nas mãos o colar, extasiada; punha os brincos com denguices delirantes; e da sua boca muito aberta saía um canto trinado, de uma cristalinidade aguda - entre o vago sussurro da admiração burguesa.

O Conselheiro disse discretamente:

- Bravo! Bravo!

E, excitado, dissertou: aquilo era o melhor da ópera! Era ali que se via a força das cantoras...

D. Felicidade quase tinha medo que lhe estalasse alguma coisa na garganta. Preocupava-se também com as jóias. Seriam falsas? Seriam dela?

- É para a tentar, não é verdade?

- É um drama alemão - disse-lhe baixo o Conselheiro.





Os capítulos deste livro