O Primo Basílio - Cap. 15: CAPÍTULO XV Pág. 398 / 414

D. Felicidade e Mariana tinham acendido uma lamparina a uma gravura de Nossa Senhora das Dores, e de joelhos rezavam.

O crepúsculo triste descia; parecia trazer um silêncio funerário.

A campainha, então, tocou discretamente; e daí a momentos apareceu a figura do Conselheiro Acácio.

D. Felicidade ergueu-se logo; e vendo as suas lágrimas, o Conselheiro disse lugubremente:

- Venho cumprir o meu dever, ajudar-lhes a passar este transe!

Explicou que encontrara por acaso o bom Dr. Caminha, que lhe contara a fatal ocorrência! Mas muito discretamente não quis entrar na alcova. Sentou-se numa cadeira, colocou melancolicamente o cotovelo sobre o joelho, a testa sobre a mão, dizendo baixo a D. Felicidade:

- Continue as suas orações. Deus é imperscrutável em seus decretos.

Na alcova, Julião estivera tomando o pulso de Luísa; olhou então Sebastião, fez-lhe o gesto de alguma coisa que voa e desaparece... Aproximaram-se de Jorge, que não se movia, de joelhos, com a face enterrada no leito:

- Jorge - disse baixinho Sebastião.

Ele levantou o rosto desfigurado, envelhecido, os cabelos nos olhos, as olheiras escuras.

- Vá, vem - disse Julião. E vendo o espanto do seu olhar: - Não, não está morta, está naquela sonolência... Mas vem.

Ele ergueu-se, dizendo com mansidão:

- Pois sim, eu vou. Estou bem... Obrigado.

Saiu da alcova.

O Conselheiro levantou-se, foi abraçá-lo com solenidade:

- Aqui estou, meu Jorge!

- Obrigado, Conselheiro, obrigado.

Deu alguns passas pelo quarto; os seus olhos pareciam preocupar-se com um embrulho que estava sobre a mesa; foi apalpá-lo; desapertou as pontas, e viu os cabelos de Luísa. Ficou a olhá-los, erguendo-os, passando-os de uma das mãos para outra, e disse com os beiços a tremer:

- Fazia tanto gosto neles, coitadinha!

Tornou a entrar na alcova.





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