O Primo Basílio - Cap. 16: CAPÍTULO XVI Pág. 407 / 414

Sebastião, no seu quarto, chorava baixo. Julião, no posto médico, estendido num sofá, lia a Revista dos Dois Mundos. Leopoldina dançava numa soirée da Cunha. Os outros dormiam. E o vento frio que varria as nuvens e agitava o gás dos candeeiros ia fazer ramalhar tristemente uma árvore sobre a sepultura de Luísa.

Daí a dois dias pela manhã Basílio, no Rossio, procurava, com o olhar em redor, um cupê decente. Mas o Pintéus, avistando-o de longe, lançou logo a parelha.

- Cá está o Pintéus, meu amo! - Parecia encantado de tornar a ver o senhor D. Basilinho, e apenas ele lhe disse:

- Lá acima, à Patriarcal, ó Pintéus!

- À casa da senhora? Pronto, meu amo. - E endireitando-se na almofada, bateu.

Quando a tipóia parou à porta de Jorge - o Paula saiu para a rua, a estanqueira correu de dentro do balcão, a criada do doutor debruçou-se logo na janela. E imóveis arregalavam os olhos.

Basílio tocara a campainha, um pouco nervoso: esperou, arremessou o charuto, tomou a puxar o cordão com força.

- As janelas estão trancadas, meu amo - disse o Pintéus.

Basílio recuou ao meio da rua: as portadas verdes estavam fechadas, a casa tinha um aspecto mudo.

Basílio dirigiu-se ao Paula:

- Os senhores que ali moram, estão para fora?

- Já não moram - disse o Paula soturnamente, passando a mão sobre o bigode.

Basílio fixou-o, surpreendido daquela entonação fúnebre.

- Onde vivem agora então?

O Paula escarrou, e cravou em Basílio um olhar desolado:

- Vossa Senhoria é o parente?

Basílio disse sorrindo.

- Sou o parente, sou.

- Então não sabe?

- O quê, homem de Deus?

O Paula esfregou o queixo, e bamboleando a cabeça:

- Pois sinto dizer-lho. A senhora morreu.

- Que senhora? - perguntou Basílio.





Os capítulos deste livro