E não cessou de invectivar o seu país, enquanto o criado à pressa, sorrindo servilmente, punha sobre a jardineira pratos, fiambre, um frango frio e borgonha.
Reinaldo vinha vender a última propriedade, e acompanhara Basílio que voltava a terminar "o secante negócio da borracha". E não cessava de rosnar soturnamente de dentro da peliça:
- Aqui estamos! Aqui estamos no chiqueiro!
Basílio não respondia. Desde que chegara a Santa Apolônia, recordações do Paraíso, da casa de Luísa, de todo aquele romance do verão passado, começavam a voltar, a atrai-lo, com um encanto picante. Fora encostar-se à vidraça. Uma lua fria, lívida, corria agora entre grossas nuvens cor de chumbo; às vezes uma grande malha luminosa caía sobre a água, faiscava; depois tudo escurecia; vagas mastreações desenhavam-se na obscuridade difusa; e algum fanal de navio tremeluzia friamente.
"Que fará ela a esta hora!" - pensava Basílio. - naturalmente, deitava-se... Mal sabia que ele estava ali, num quarto do Hotel Central...
Cearam.
Basílio levou a garrafinha de conhaque para a cabeceira da cama; e com a cara coberta de pó-de-arroz, os folhos da sua camisa de dormir abertos sobre o peito, muito estendido, soprando o fumo do charuto, gozava uma lassidão confortável.
- E amanhã estou-te daqui a ver - disse Reinaldo. - Vai-te logo meter com a prima!
Basílio sorriu; o seu olhar errou um pouco pelo teto; certas recordações das belezas dela, do seu temperamento amoroso, trouxeram-lhe uma vaga voluptuosidade; espreguiçou-se. - Que diabo! - disse - é uma linda rapariga! Vale imenso a pena! - Bebeu mais um cálice de conhaque, e daí a pouco dormia profundamente. Era meia-noite.
Àquela hora Jorge acordava, e sentado numa cadeira, imóvel, com soluços cansados que ainda o sacudiam, pensava nela.