O Primo Basílio - Cap. 2: CAPÍTULO II Pág. 44 / 414

Também o desejava tanto! Chamar-se-ia Carlos Eduardo. E via-o no seu berço dormindo, ou no colo, nu, agarrando com a mãozinha o dedo do pé, mamando a ponta rosada do seu peito... Um estremecimento de um deleite infinito correu-lhe no corpo. Passou o braço pela cinta de Jorge. Um dia seria, teria um filho decerto! E não compreendia o seu filho homem nem Jorge velho; via-os ambos do mesmo modo: um sempre amante, novo, forte; o outro sempre dependente do seu peito, da maminha, ou gatinhando e palrando, louro e cor-de-rosa. E a vida aparecia-lhe infindável, de uma doçura igual, atravessada do enternecimento amoroso, quente, calma e luminosa como a noite que os cobria.

- A que horas quer a senhora que a venha acordar? - disse a voz seca de Juliana.

Luísa voltou-se:

- Às sete já lhe disse há pouco, criatura.

Fecharam a janela. Em torno das velas uma borboleta branca esvoaçava. Era bom agouro!

Jorge prendeu-a nos braços:

- Vai ficar sem o seu maridinho, hem? - disse tristemente.

Ela deixou pesar o corpo sobre as mãos dele cruzadas, olhou-o com um longo olhar que se enevoava e escurecia, e envolvendo-lhe o pescoço com o gesto lento, harmonioso e solene dos braços, pousou-lhe na boca um beijo grave e profundo. Um vago soluço levantou-lhe o peito.

- Jorge! Querido! - murmurou.





Os capítulos deste livro