O Primo Basílio - Cap. 3: CAPÍTULO III Pág. 54 / 414

- Estás muito bem instalada aqui - disse.

Não estava mal... A casa era pequena, mas muito cómoda. Pertencia-lhes.

- Ah! Estás perfeitamente! Quem é esta senhora, com uma luneta de ouro?

E indicava o retrato por cima do sofá.

- A mãe de meu marido.

- Ah! Vive ainda?

- Morreu.

- É o que uma sogra pode fazer de mais amável...

Bocejou ligeiramente, fitou um momento os seus sapatos muito aguçados, e com um movimento brusco, ergueu-se, tomou o chapéu.

- Já? Onde estás?

- No Hotel Central. E até quando?

- Até quando quiseres. Não disseste que vinhas amanhã com o rosário?

Ele tomou-lhe a mão, curvou-se:

- Já se não pode dar um beijo na mão de uma velha prima?

- Por que não?

Pousou-lhe um beijo na mão, muito longo, com uma pressão doce.

- Adeus! - disse.

E à porta com o reposteiro meio erguido, voltando-se:

- Sabes, que eu, ao subir as escadas, vinha a perguntar a mim mesmo, como se vai isto passar?

- Isto quê? Vermo-nos outra vez? Mas, perfeitamente. Que imaginaste tu?

Ele hesitou, sorriu:

- Imaginei que não eras tão boa rapariga. Adeus. Amanhã, hem?

No fundo da escada acendeu o charuto, devagar.

- "Que bonita que ela está!" - pensou.

E arremessando o fósforo, com força:

- "E eu, pedaço de asno, que estava quase decidido a não a vir ver! Está de apetite! Está muito melhor! E sozinha em casa; aborrecidinha talvez!..."

Ao pé da Patriarcal fez parar um cupé vazio; e estendido, com o chapéu nos joelhos, enquanto a parelha esfalfada trotava:

- "E tem-me o ar de ser muito asseada, coisa rara na terra! As mãos muito bem tratadas! O pé muito bonito!"

Revia a pequenez do pé, pôs-se a fazer por ele o desenho mental de outras belezas, despindo-a, querendo adivinhá-la.





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