Luísa voltava entre os dedos o seu medalhão de ouro, preso ao pescoço por uma fita de veludo preto.
- E estiveste então um ano em Paris?
Um ano divino. Tinha um apartamento lindíssimo, que pertencera a Lord Flamouth, Rue Saint Florentin; tinha três cavalos...
E recostando-se muito, com as mãos nos bolsos:
- Enfim, fazer este vale de lágrimas o mais confortável possível!... Dize cá, tens algum retrato nesse medalhão?
- O retrato de meu marido.
- Ah! Deixa ver!
Luísa abriu o medalhão. Ele debruçou-se; tinha o rosto quase sobre o peito dela. Luísa sentia o aroma fino que vinha de seus cabelos.
- Muito bem, muito bem! - fez Basílio.
Ficaram calados.
- Que calor que está! - disse Luísa. - Abafa-se, bem!
Levantou-se, foi abrir um pouco uma vidraça. O sol deixara a varanda. Uma aragem suave encheu as pregas grossas das bambinelas.
- É o calor do Brasil - disse ele. - Sabes que estás mais crescida?
Luísa estava de pé. O olhar de Basílio corria-lhe as linhas do corpo; e com a voz muito íntima, os cotovelos sobre os joelhos, o rosto erguido para ela:
- Mas, francamente, dize cá, pensaste que eu te viria ver?
- Ora essa! Realmente, se não viesses zangava-me. Es o meu único parente... O que tenho pena é que meu marido não esteja...
- Eu - acudiu Basílio - foi justamente por ele não estar...
Luísa fez-se escarlate. Basílio emendou logo, um pouco corado também:
- Quero dizer... talvez ele saiba que houve entre nós...
Ela interrompeu:
- Tolices! Éramos duas crianças. Onde isso vai!
- Eu tinha vinte e sete anos - observou ele, curvando-se.
Ficaram calados, um pouco embaraçados. Basílio cofiava o bigode, olhando vagamente em redor.