O Primo Basílio - Cap. 3: CAPÍTULO III Pág. 53 / 414

Positivamente não podia comer! - Só em Paris se come - resumiu.

Luísa voltava entre os dedos o seu medalhão de ouro, preso ao pescoço por uma fita de veludo preto.

- E estiveste então um ano em Paris?

Um ano divino. Tinha um apartamento lindíssimo, que pertencera a Lord Flamouth, Rue Saint Florentin; tinha três cavalos...

E recostando-se muito, com as mãos nos bolsos:

- Enfim, fazer este vale de lágrimas o mais confortável possível!... Dize cá, tens algum retrato nesse medalhão?

- O retrato de meu marido.

- Ah! Deixa ver!

Luísa abriu o medalhão. Ele debruçou-se; tinha o rosto quase sobre o peito dela. Luísa sentia o aroma fino que vinha de seus cabelos.

- Muito bem, muito bem! - fez Basílio.

Ficaram calados.

- Que calor que está! - disse Luísa. - Abafa-se, bem!

Levantou-se, foi abrir um pouco uma vidraça. O sol deixara a varanda. Uma aragem suave encheu as pregas grossas das bambinelas.

- É o calor do Brasil - disse ele. - Sabes que estás mais crescida?

Luísa estava de pé. O olhar de Basílio corria-lhe as linhas do corpo; e com a voz muito íntima, os cotovelos sobre os joelhos, o rosto erguido para ela:

- Mas, francamente, dize cá, pensaste que eu te viria ver?

- Ora essa! Realmente, se não viesses zangava-me. Es o meu único parente... O que tenho pena é que meu marido não esteja...

- Eu - acudiu Basílio - foi justamente por ele não estar...

Luísa fez-se escarlate. Basílio emendou logo, um pouco corado também:

- Quero dizer... talvez ele saiba que houve entre nós...

Ela interrompeu:

- Tolices! Éramos duas crianças. Onde isso vai!

- Eu tinha vinte e sete anos - observou ele, curvando-se.

Ficaram calados, um pouco embaraçados. Basílio cofiava o bigode, olhando vagamente em redor.





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