- "É agora!" - pensava. - "Morre!"
E o seu olhar ansioso ia logo para a gaveta da cómoda, onde estava decerto os papéis. Mas não! A velha queria beber, ou voltar-se...
- Como se sente? - perguntava Juliana, com uma voz plangente. Melhor, Juliana, melhor - murmurava.
Supunha-se sempre melhor.
- Mas a senhora tem estado desinquieta! - dizia Juliana, despeitada da melhora.
- Não - suspirava - dormi bem!
- Isso não tem dormido... Tenho-a ouvido gemer! Tem estado toda a noite a gemer!
Queria argumentar com ela, convencê-la que estava pior! Convencer-se a si mesma que o alívio era efêmero, que ia morrer depressa! E todas as manhãs seguia o Dr. Pinto até à porta, com os braços cruzados, a face triste:
- Então, senhor doutor, não há esperança?
- Está por dias!
Queria saber os dias: dois? cinco?
- Sim, Sra. Juliana - dizia o velho, calçando as suas luvas pretas - uns dias, sete, oito.
- Oito dias!
E como a felicidade se aproximava, já tinha de olho três pares de botinas que vira na vidraça do Manuel Lourenço!
A velha, enfim, morreu. Nem a mencionava no testamento!
Veio-lhe uma febre.