O Primo Basílio - Cap. 4: CAPÍTULO IV Pág. 71 / 414

A cozinheira de pé, com os braços cruzados

sobre o seu peito abundante, regozijava-se:

- O que se quer é que esteja a gosto.

- Está a preceito.

Sorriam, contentes da intimidade, das boas palavras. - E a campainha da porta que já tinha tocado, tornou a tilintar discretamente.

Juliana não se mexeu. Bafos de aragem quente entravam; ouvia-se ferver a panela no fogão, e fora o martelar incessante da forja; às vezes o arrulhar triste de duas rolas que viviam na varanda, numa gaiola de vime, punha na tarde abrasada uma sensação de suavidade.

A campainha retilintou, sacudida com impaciência.

- Com a cabeça, burro! - disse Juliana.

Riram. Joana fora sentar-se à janela, numa cadeira baixa; estendia os seus grossos pés, calçados de chinelas de ourelo; coçava-se devagarinho, no sovaco, toda repousada.

A campainha retiniu violentamente.

- Fora, besta! - rosnou Juliana, muito tranquila.

Mas a voz irritada de Luísa chamou debaixo:

- Juliana!

- Que nem uma pessoa pode tomar a sustância sossegada! Raio de casa! Irra!

- Juliana! - gritou Luísa.

A cozinheira voltou-se, já assustada:

- A senhora zanga-se, Sra. Juliana.

- Que a leve o diabo!

Limpou os beiços gordurosos ao avental, desceu furiosa.

- Você não ouve, mulher? Estão a bater há uma hora!

Juliana arregalou os olhos espantada; Luísa tinha vestido um roupão novo de fular cor de castanho, com pintinhas amarelas!

- "Temos novidade! Temo-la grossa!" - pensou Juliana pelo corredor.

A campainha repicava. E no patamar, vestido de claro, com uma rosa ao peito, um embrulho debaixo do braço, estava o "sujeito do negócio das minas!"

- Aquele sujeito de ontem! - veio dizer, toda pasmada.

- Mande entrar...

- "Viva!" - pensou.





Os capítulos deste livro