O Primo Basílio - Cap. 4: CAPÍTULO IV Pág. 82 / 414

Aquele aspecto irritou Basílio, e como era difícil andar lembrou - "que se fossem daquela sensaboria".

Saíram. Enquanto ele ia comprar os bilhetes, D. Felicidade, deixando-se quase cair num banco sob a folhagem de um chorão, exclamou aflita:

- Ai, filha! Estou que arrebento!

Passava a mão no estômago; tinha a face envelhecida.

- E o Conselheiro, que me dizes? Olha que já é pouca sorte! Hoje que eu vim ao Passeio...

Suspirou, abanando-se. E com o seu sorriso bondoso:

- É muito simpático, teu primo! E que maneiras! Um verdadeiro fidalgo. Que eles conhecem-se, filha!

Declarou-se muito fatigada, apenas saíram o portão. Era melhor tomarem um trem.

Basílio achava preferível subirem a pé até ao Largo do Loreto. A noite estava tão agradável! E o andar fazia bem à senhora D. Felicidade!

Depois diante do Martinho, falou em irem tomar neve; mas D. Felicidade receava a frialdade; Luísa tinha vergonha. Pelas portas do café abertas, viam-se sobre as mesas jornais enxovalhados; e algum raro indivíduo, de calça branca, tomava placidamente o seu sorvete de morango.

No Rossio, sob as árvores, passeava-se; pelos bancos, gente imóvel parecia dormitar; aqui e além pontas de cigarro reluziam; sujeitos passavam, com o chapéu na mão, abanando-se, o colete desabotoado; a cada canto se apregoava água fresca "do Arsenal"; em torno do largo, carruagens descobertas rodavam vagarosamente. O céu abafava - e na noite escura, a coluna da estátua de D. Pedro tinha o tom baço e pálido de uma vela de estearina colossal e apagada.

Basílio, ao pé de Luísa, ia calado. "Que horror de cidade!" - pensava. -"Que tristeza!" E lembrava-lhe Paris, de verão; subia, à noite, no seu faéton, os Campos Elísios devagar; centenares de vitórias





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