O Primo Basílio - Cap. 4: CAPÍTULO IV Pág. 88 / 414

- É algum romance? - perguntou-lhe Luísa.

- Não. É o tratado do Dr. Lee sobre doenças do útero.

Luísa fez-se escarlate; Julião também, furioso da palavra que lhe escapara. E Basílio, depois de sorrir, perguntou por uma certa D. Rafaela Grijó, que costumava ir à Rua da Madalena, que usava luneta, e tinha um cunhado gago...

- Morreu-lhe o marido. Casou com o cunhado.

- Com o gago?

- Sim. Tem um filhito dele, gago também.

- Que conversação, em família! E a D. Eugênia, a de Braga?

Juilão, exasperado, ergueu-se; e com uma voz de garganta seca:

- Estou com pressa, não me posso demorar. Quando escrever a Jorge, os meus recados, hem?

Abaixou bruscamente a cabeça a Basílio. Mas não achava o chapéu; tinha rolado para debaixo de uma cadeira. Embrulhou-se no reposteiro, topou violentamente contra a porta fechada, e saiu enfim desesperado, desejando vingar-se, odiando Luísa, Jorge, o luxo, a vida - trasbordando agora de ironias, de ditos, de réplicas. Devia-os ter achatado, o asno e a tola... E não lhe acudira nada!

Mas apenas ele tinha fechado a cancela, Basílio pôs-se de pé, e cruzando os braços:

- Quem é esse pulha?

Luísa corou muito; balbuciou:

- É um rapaz médico...

- É uma criatura impossível, é uma espécie de estudante.

- Coitado, não tem muitos meios...

Mas não era necessário ter meios para escovar o casaco e limpar a caspa! Não devia receber semelhante homem! Envergonha uma casa. Se seu marido gostava dele, que o recebesse no escritório!...

Passeava pela sala, excitado, com as mãos nos bolsos, fazendo tilintar o dinheiro e as chaves.

- São frescos os amigos da casa!... - continuou. - Que diabo! Tu não foste educada assim. Nunca tiveste gente deste gênero na Rua da Madalena.





Os capítulos deste livro