O Primo Basílio - Cap. 4: CAPÍTULO IV Pág. 87 / 414

E instintivamente, a sua fisionomia tornou-se muito reservada - como se semelhante visita a surpreendesse! Semelhante toalete a indignasse!

Julião percebeu o constrangimento dela; disse, já embaraçado, ajeitando a luneta:

- Passei por aqui por acaso, entrei a saber se há algumas notícias de Jorge...

- Obrigada. Sim, tem escrito. Está bem...

Basílio, recostado no sofá, como um parente intimo, examinava a sua meia de seda bordada de estrelinhas escarlates, e cofiava indolentemente o bigode, arrebitando um pouco o dedo mínimo - onde brilhavam, em dois grossos anéis de ouro, uma safira e um rubi.

A afetação da atitude, o reluzir das jóias irritaram Julião.

Quis mostrar também a sua intimidade, os seus direitos; disse:

- Eu não tenho vindo fazer-lhe um bocado de companhia, porque tenho estado muito ocupado...

Luísa acudiu para desautorizar logo aquela familiaridade:

- Eu também não me tenho achado bem. Não tenho recebido ninguém - a o ser meu primo, naturalmente!

Julião sentiu-se renegado! E todo vermelho, de surpresa, de indignação, - a balançar a perna, calado, com o livro sobre o joelho; como a calça era curta, via-se quase o elástico esfiado das botas velhas.

Houve um silêncio difícil.

- Bonitas rosas! - disse enfim Basílio, preguiçosamente.

- Muito bonitas! - respondeu Luísa.

Estava agora compadecida de Julião; procurava uma palavra; disse-lhe enfim muito precipitadamente:

- E que calor! É de morrer! Tem havido muitas doenças?

- Colerinas - respondeu Julião. - Por causa das frutas. Doenças de ventre.

Luísa baixou os olhos. Basílio então começou a falar da Viscondessinha de Azeias; tinha-a achado acabada; e que era feito da irmã, da grande?

Aquela conversação sobre fidalgas que ele não conhecia isolava mais Julião; sentia o suor umedecer-lhe o pescoço; procurava um dito, uma ironia, uma agudeza; e maquinalmente abria e fechava o seu grosso livro de capa amarela.





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