- Vimos agora lá em baixo, disse Craft indo sentar-se no divã, uma esplendida mulher, com uma esplêndida cadelinha grifon, e servida por um esplêndido preto!
O Sr. Dâmaso Salcêde, que não despegava os olhos de Carlos, acudiu logo:
- Bem sei! Os Castro Gomes... Conheço-os muito... Vim com eles de Bordéus... Uma gente muito chic que vive em Paris.
Carlos voltou-se, reparou mais nele, perguntou-lhe, afável e interessando-se:
- O senhor Salcêde chegou agora de Bordéus?
Estas palavras pareceram deleitar Dâmaso como um favor celeste: ergueu-se imediatamente, aproximou-se do Maia, banhado num sorriso:
- Vim aqui há quinze dias, no Orenoque. Vim de Paris... Que eu em podendo é lá que me pilham! Esta gente conheci-a em Bordéus. Isto é, verdadeiramente conheci-a a bordo. Mas estávamos todos no Hotel de Nantes... Gente muito chic: criado de quarto, governanta inglesa para a filhita, feme de chambre, mais de vinte malas... Chic a valer! Parece incrível, uns brasileiros... Que ela na voz não tem sotaque nenhum, fala como nós. Ele sim, ele muito sotaque... Mas elegante também, v. Ex.ª não lhe pareceu?
- Vermute? perguntou-lhe o criado, oferecendo a salva.
- Sim, uma gotinha para o apetite. V. Ex.ª não toma, Sr. Maia? Pois eu, assim que posso, é direitinho para Paris! Aquilo é que é terra! Isto aqui é um chiqueiro... Eu, em não indo lá todos os anos, acredite v. ex.ª, até começo a andar doente. Aquele boulevarzinho, hein!... Ai, eu gozo aquilo!... E sei gozar, sei gozar, que eu conheço aquilo a palmo... Tenho até um tio em Paris.
- E que tio! exclamou Ega, aproximando-se. Íntimo de Gambeta, governa a França... O tio do Dâmaso governa a França, menino!
Dâmaso, escarlate, estourava de gozo.
- Ah, lá isso influência tem. Íntimo do Gambeta, tratam-se por tu, até vivem quase juntos... E não é só com o Gambeta; é com o Mac-Mahon, com o Rochefort, com o outro de que me esquece agora o nome, com todos os republicanos, enfim!... É tudo quanto ele queira. V. Ex.ª não o conhece? É um homem de barbas brancas... Era irmão de minha mãe, chama-se Guimarães. Mas em Paris chamam-lhe Mr. de Guimaran...