Mas o que atraiu Carlos foi um bonito biombo de linho cru, com ramalhetes bordados, desdobrado ao pé da janela, fazendo um recanto mais resguardado e mais íntimo. Havia lá uma cadeirinha baixa de cetim escarlate, uma grande almofada para os pés, uma mesa de costura com todo um trabalho de mulher interrompido, números de jornais de modas, um bordado enrolado, molhos de lã de cores transbordando de um açafate. E, confortavelmente enroscada no macio da cadeira, achava-se aí, nesse momento, a famosa cadelinha escocesa, que tantas vezes passara nos sonhos de Carlos, trotando ligeiramente atrás de uma radiante figura pelo Aterro fora, ou aninhada e adormecida num doce regaço...
- Bonjour, Mademoisele, disse-lhe ele, baixinho, querendo captar-lhe as simpatias.
A cadelinha erguera-se logo bruscamente na cadeira, de orelhas fitas, dardejando para aquele estranho, por entre as repas esguedelhadas, dois belos olhos de azeviche, desconfiados, de uma penetração quase humana. Um instante Carlos receou que ela rompesse a ladrar. Mas a cadelinha de repente namorara-se dele, deitada já na cadeira, de patas ao ar, descomposta, abandonando o ventrezinho às suas caricias. Carlos ia coçá-la e amimá-la, quando um passo leve pisou a esteira. Voltou-se, viu Maria Eduarda diante de si.