Os Maias - Cap. 15: Capítulo 15 Pág. 475 / 630

Ega, que esperava, com o monóculo sôfrego, teve um brado de triunfo. Reconhecera a letra do Dâmaso!

Carlos examinou os papeis lentamente. Era uma carta do Dâmaso ao Palma, curta e em calão, remetendo o artigo, recomendando-lhe «que o apimentasse». Era o rascunho do artigo, laboriosamente trabalhado pelo Dâmaso, com entrelinhas. Era a lista, escrita pelo Dâmaso, das pessoas que deviam receber a Corneta: vinha lá a Gouvarinho, o ministro do Brasil, D. Maria da Cunha, El-Rei, todos os amigos do Ramalhete, o Cohen, varias autoridades, e a Fanceli prima-dona...

Palma no entanto, nervoso, rufava com os dedos sobre a toalha, junto ao prato onde reluziam as libras. E foi o Ega que o animou, depois de relancear os olhos aos documentos por cima do ombro de Carlos:

- Recolha o bago, amigo Palma! Negócios são negócios, e o baguinho está aí a arrefecer!

Então, ao palpar o ouro, Palma Cavalão comoveu-se. Palavra, caramba, se soubesse que se tratava de um cavalheiro como o Sr. Maia não tinha aceitado o artigo! Mas então!... fora o Eusébio Silveira, rapaz amigo, que lhe viera falar. Depois o Salcede. E ambos com muitas lérias, e que era uma brincadeira, e que o Maia não se importava, e isto e aquilo, e muita promessa... Enfim deixara-se tentar. E tanto o Salcede como o Silveira se tinham portado pulhamente.

- Foi uma sorte que se escangalhasse a máquina! Senão estava agora entalado, irra! E tinha desgosto, palavra, caramba, tinha desgosto! Mas acabou-se! O mal não foi grande, e sempre se fez alguma coisa pela porca da vida.

Vivamente, com um olhar, recontara o dinheiro na palma da mão: depois esvaziou a genebra, de um trago consolado e ruidoso.

Carlos guardara as cartas do Dâmaso, levantava já o fecho da porta. Mas voltou-se ainda, numa derradeira averiguação:

- Então esse meu amigo Eusébio Silveira também se meteu no negócio?...

O Sr. Palma, muito lealmente, afiançou que o Eusébio lhe falara apenas em nome do Dâmaso!





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