Os Maias - Cap. 15: Capítulo 15 Pág. 487 / 630

- Perfeitamente, então bate-se...

Dâmaso cambaleou para traz, desvairado:

- Qual bater-me! E sou lá homem que me bata! Eu cá é a soco. Que venha para cá, não tenho medo dele, arrombo-o...

Dava pulinhos curtos de gordo, através do tapete, com os punhos fechados e em riste. E queria Carlos ali para o escavacar! Não lhe faltava mais senão bater-se... E então duelos em Portugal, que acabavam sempre por troça!

Ega no entanto, como se a sua missão estivesse finda, abotoara a sobrecasaca e recolhia os papeis espalhados sobre a Bíblia.

Depois, serenamente, fez a última declaração de que fora incumbido. Como o Sr. Dâmaso Salcede recusava retractar-se e rejeitara também uma reparação pelas armas, Carlos da Maia prevenia-o de que em qualquer parte que o encontrasse daí por diante, fosse uma rua, fosse um teatro, lhe escarraria na face...

- Escarrar-me! Berrou o outro, lívido, recuando, como se o escarro já viesse no ar.

E de repente, espavorido, coberto de bagas de suor, precipitou-se sobre o Ega, agarrando-lhe as mãos, numa agonia:

- Ó João, ó João, tu, que és meu amigo, por quem és, livra-me desta entaladela!

Ega foi generoso. Desprendeu-se dele, empurrou-o brandamente para a poltrona, calmando-o com palmadinhas fraternais pelo ombro. E declarou que, desde que Dâmaso apelava para a sua amizade, desaparecia o enviado de Carlos necessariamente exigente, ficava só o camarada, como no tempo dos Cohens e da vila Balzac. Queria pois o amigo Dâmaso um conselho? Era assinar uma carta afirmando que tudo o que fizera publicar na Corneta sobre o Sr. Carlos da Maia e certa senhora fora invenção falsa e gratuita. Só isto o salvava. De outro modo, Carlos um dia, no Chiado, em S. Carlos, escarrava-lhe na cara. E, dado esse desastre, Dâmasozinho, a não querer ser apontado em Lisboa como um incomparável cobarde, tinha de se bater à espada ou à pistola...

- Ora, em qualquer desses casos, você era um homem morto.





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