Com efeito, Carlos pouco se demorou em Rezende. E numa luminosa e macia manhã de janeiro de 1887, os dois amigos enfim juntos almoçavam num salão do Hotel Braganza, com as duas janelas abertas para o rio.
Ega, já curado, radiante, numa excitação que não se calmava, alagando-se de café, entalava a cada instante o monóculo para admirar Carlos e a sua «imutabilidade».
- Nem uma branca, nem uma ruga, nem uma sombra de fadiga!... Tudo isso é Paris, menino!... Lisboa arrasa. Olha para mim, olha para isto!
Com o dedo magro apontava os dois vincos fundos ao lado do nariz, na face chupada. E o que o aterrava sobretudo era a calva, uma calva que começara havia dois anos, alastrara, já reluzia no alto.
- Olha este horror! A ciência para tudo acha um remédio, menos para a calva! Transformam-se as civilizações, a calva fica!... Já tem tons de bola de bilhar, não é verdade?... De que será?
- É a ociosidade, lembrou Carlos rindo.
- A ociosidade... E tu, então?
De resto, que podia ele fazer neste país?... Quando voltara de França, ultimamente, pensara em entrar na diplomacia. Para isso sempre tivera a blague: e agora que a mamã, coitada, lá estava no seu grande jazigo em Celorico, tinha a massa. Mas depois reflectira.
Por fim, em que consistia a diplomacia portuguesa? Numa outra forma da ociosidade, passada no estrangeiro, com o sentimento constante da própria insignificância. Antes o Chiado!
E como Carlos lembrava a política, ocupação dos inúteis, Ega trovejou. A política! Isso tornara-se moralmente e fisicamente nojento, desde que o negocio atacara o constitucionalismo como uma filoxera!