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Capítulo 18: Capítulo 18

Página 622
E ajuntou, batendo com carinho familiar no ombro de Carlos:

- Pois eu, depois de nos separarmos em Santa Apolónia, fui tomar um banho ao Central e não me deitei. Olhe que é uma grande comodidade o tal sleeping-car! Ah lá isso, em progresso, o nosso Portugal já não está atrás de ninguém!... E V. Ex.ª agora precisa de mim?

- Não, obrigado, Vilaça. Vamos dar uma volta pelas salas... Vá jantar connosco. às seis! Mas às seis em ponto, que há petiscos especiais.

E os dois amigos atravessaram o peristilo. Ainda lá se conservavam os bancos feudais de carvalho lavrado, solenes como coros de catedral. Em cima porém a antecâmara entristecia, toda despida, sem um móvel, sem um estofo, mostrando a cal lascada dos muros. Tapeçarias orientais que pendiam como numa tenda, pratos mouriscos de reflexos de cobre, a estátua da Friorenta rindo e arrepiando-se, na sua nudez de mármore, ao meter o pezinho na água - tudo ornava agora os aposentos de Carlos em Paris: e outros caixões apilhavam-se a um canto, prontos a embarcar, levando as melhores faianças da Toca. Depois no amplo corredor, sem tapete, os seus passos soaram como num claustro abandonado. Nos quadros devotos, num tom mais negro, destacava aqui e além, sob a luz

escassa, um ombro descarnado de eremita, a mancha lívida de uma caveira. Uma friagem regelava. Ega levantara a gola do paletó.

No salão nobre os moveis de brocado cor de musgo estavam embrulhados em lençóis de algodão, como amortalhados, exalando um cheiro de múmia a terebintina e canfora. E no chão, na tela de Constable, encostada à parede, a condessa de Runa, erguendo o seu vestido escarlate de caçadora inglesa, parecia ir dar um passo, sair do caixilho dourado, para partir também, consumar a dispersão da sua raça...

- Vamos embora, exclamou Ega. Isto está lúgubre...

Mas Carlos, pálido e calado, abriu adiante a porta do bilhar. Aí, que era a maior sala do Ramalhete, tinham sido recentemente acumulados na confusão das artes e dos séculos, como num armazém de bric-à-brac, todos os moveis ricos da Toca.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 622

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605