Ela estava feliz; a intimidade de ele ter calor, de qualquer facto físico que lhe dissesse respeito, fazia-a vibrar. Quando chegaram ao portão de ferro e Anson tirou a chave, ela experimentou uma espécie de deleite.
Em baixo estava escuro e, depois de ele subir no elevador, Dolly levantou um cortinado e olhou através da renda opaca para as casas do outro lado da rua. Ouviu o elevador parar e, com a intenção de o arreliar, carregou no botão e fê-lo vir para baixo. Depois, obedecendo a algo mais do que um simples impulso, entrou nele e levou-o para o que supunha ser o andar de Anson.
- Anson - chamou ela rindo.
- É só um minuto - respondeu ele do quarto... e depois - Agora podes entrar.
Ele mudara de fato e estava a abotoar o colete.
- Este é o meu quarto - disse ele desprendido.
- Gostas?
Ela viu o retrato de Paula na parede e ficou a olhar para ele fascinada, tal como Paula olhara para as fotografias das namoradas de infância de Anson cinco anos antes. Sabia algumas coisas acerca de Paula - às vezes torturava-se com fragmentos da história.
De repente aproximou-se de Anson levantando os braços. Abraçaram-se. Fora da área da janela já pairava um suave crepúsculo artificial, embora o sol ainda estivesse claro num telhado das traseiras do outro lado. Dentro de meia hora o quarto ficaria completamente escuro. A oportunidade inesperada esmagava-os, tirava-lhes a respiração e eles apertaram-se mais um contra o outro. Estava iminente, era inevitável. Ainda agarrados um ao outro ergueram as cabeças, e os olhos de ambos caíram juntos sobre o retrato de Paula que os olhava da parede.
De repente Anson deixou cair os braços e, sentando-se à secretária, tentou abrir a gaveta com um molho de chaves.