Secou à pressa a navalha de barba, passou por sobre os ombros os suspensórios pendentes e pôs-se à escuta. Alguém caminhava na cozinha e compreendeu pelo pisar que não era a mulher. Com a boca ligeiramente entreaberta desceu rapidamente as escadas e abriu a porta da cozinha.
Junto do lava-louça, com uma mão na torneira que ainda pingava e a outra agarrando um copo cheio de água, estava o filho. Os olhos do rapaz, ainda pesados de sono, encontraram os do pai com uma beleza assustada e reprovadora. Estava descalço e tinha o pijama enrolado até aos joelhos e nas mangas.
Por um momento ambos ficaram imóveis; as sobrancelhas de Carl Miller desceram e as do filho subiram, como se estivessem a medir os extremos de emoção que os enchia. Então, os pêlos do bigode do pai desceram sinistramente até lhe taparem a boca, e ele lançou um olhar rápido à volta para ver se alguma coisa estava fora do lugar.
A cozinha estava enfeitada pela luz do sol que batia nas panelas e tornava as tábuas macias do soalho e da mesa amarelas e imaculadas. Era o centro da casa, onde o fogo ardia e os tachos encaixavam uns nos outros como brinquedos, e o vapor de água assobiava o dia inteiro em ténues sons de pastel. Nada estava desarrumado, ninguém tinha tocado em nada... excepto a torneira onde ainda se formavam gotas de água que pingavam como uma chama branca para dentro do lava-louças.