A Década Perdida - Cap. 1: O PRIMEIRO DE MAIO Pág. 21 / 182

Um minuto depois ouviram o barulho de várias rolhas a saltar e depois o som de gelo partindo-se e de líquido a gorgolejar , George estava misturando o ponche.

Os soldados trocaram sorrisos deliciados. - Eh, pá! - cochichou Rose.

George reapareceu.

- Abaixem-se, rapazes - disse rapidamente. - Já vos trago a vossa dose dentro de cinco minutos.

Desapareceu pela porta por onde entrara.

Logo que se ouviram os passos pelas escadas abaixo, Rose, depois de uma olhadela cautelosa, meteu-se na sala das delícias e reapareceu com uma garrafa na mão.

- Ora aqui está o que eu quis dizer - disse enquanto se sentavam radiantes, digerindo a sua primeira bebida.

- Vamos esperar que ele suba e perguntamos-lhe se não pode ficar aqui um bocadinho a beber o que nos traz - estás a ver? Depois podemos esgueirar-nos para ali sempre que lá não houver ninguém e metemos uma garrafa debaixo dos casacos. Ficamos com o bastante para uns dois dias - estás a ver?

- Está claro! - concordou Rose entusiasmado.

- Eh, pá! E se quisermos podemos vender aos soldados em qualquer altura que nos apeteça.

Ficaram calados por um momento pensando neste sonho cor-de-rosa. Então Key levantou-se e desapertou a gola da farda.

- Está aqui calor, não está? Rose apressou-se a concordar. - Um calor danado.

IV

Estava ainda muito irritada quando saiu do toucador e atravessou a sala que dava para o vestíbulo irritada não tanto pelo caso em si que era, afinal, o mais banal dos lugares-comuns da sua existência social, mas porque acontecera justamente naquela noite. Não tinha de que se reprovar. Tinha agido com aquela combinação correcta de dignidade e discreta piedade que sempre usava. Sucinta e habilmente tinha-o posto no seu lugar.





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