A Década Perdida - Cap. 1: O PRIMEIRO DE MAIO Pág. 39 / 182

As montras das grandes lojas estavam escuras; por cima das portas, as armações de ferro tinham sido recolhidas, parecendo agora túmulos sombrios do esplendor do dia que morrera. Olhando para a Rua 42, viu uma mancha confusa de luzes vindas dos restaurantes abertos toda a noite. Sobre a Sexta Avenida, o caminho-de-ferro aéreo, um clarão de fogo, rugia atravessando a rua entre os feixes de luz paralelos da estação e desaparecia na escuridão profunda. Mas na Rua 44 tudo estava tranquilo.

Aconchegando-se no casaco de noite, Edith atravessou rapidamente a Avenida. Parou, nervosa, quando um homem solitário cruzou com ela e disse num murmúrio rouco: «Onde vais, boneca? Recordou-se de uma noite, quando era criança e passeava em pijama à volta do quarteirão, em que um cão lhe uivara de um quintal grande e misterioso.

Num minuto chegara ao seu destino, um edifício relativamente antigo, de dois andares, na Rua 44, em cujas janelas mais altas distinguiu aliviada uma réstia de luz. Cá fora estava suficientemente claro para poder ler o letreiro ao lado da janela - The New York Trumpet. Entrou para um vestíbulo escuro e, passado um instante, viu as escadas a um canto.

Depois encontrou-se num compartimento comprido e baixo, mobilado com muitas secretárias e tendo por todos os lados arquivos de edições de jornais. Só lá havia duas pessoas. Estavam sentadas em diferentes extremidades do' aposento, cada uma com uma pala sobre os olhos, e escreviam à luz de um único candeeiro.

Por um momento ficou parada, hesitante, no limiar da porta, e então os dois homens voltaram-se simultaneamente, ao mesmo tempo que' ela reconhecia o irmão.

- Olá, Edith! - Levantou-se rapidamente e aproximou-se dela surpreendido, tirando a pala.





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