A Década Perdida - Cap. 1: O PRIMEIRO DE MAIO Pág. 55 / 182

Podiam ouvir o criado mas não o entendiam.

- Repito - continuou com paciente indulgência - que parece haver uma falta de bebidas inexplicável e de bastante mau gosto, aqui na ementa.

- Olha! - disse Dean em tom de confidência, - deixa-me ser eu a tratar com ele. - Voltou-se para o criado: - Traga-nos... traga-nos... - e examinava a ementa ansiosamente. - Traga-nos uma garrafa de champanhe e... e talvez sanduíches de fiambre.

O criado olhou-o, duvidoso.

- Traga lá isso! - trovejaram o senhor «Entrada» e o senhor «Saída» em coro.

O criado tossiu e desapareceu. Houve uma curta espera, durante a qual foram sujeitos, sem darem por isso, a um cuidadoso exame por parte do chefe dos criados. Então chegou o champanhe e, ao vê-lo, o senhor «Entrada» e o senhor «Saída» exultaram.

- Imaginem, a quererem impedir-nos de beber champanhe ao pequeno almoço! Imaginem só!

Ambos se concentraram na visão de uma possibilidade tão terrível, mas a hipótese era demais para eles. Era impossível às suas imaginações em conjunto evocar um mundo onde alguém pudesse impedir alguém de beber champanhe ao pequeno almoço. O criado tirou a rolha com um enorme pop, e os dois copos imediatamente se encheram de espuma amarela pálida.

- Aqui vai à sua saúde, senhor «Entrada».

- E o mesmo para si, senhor «Saída».

O criado retirou-se, os minutos passaram; dentro da garrafa, o champanhe era cada vez menos. - É, é apavorante - disse Dean de repente. - O que é que é apavorante?

- A ideia de nos impedirem d€ beber champanhe ao pequeno almoço.

- Apavorante? - considerou Peter. - E, é mesmo esse o termo: apavorante.

Desataram de novo a rir, berraram, balançaram-se para trás e para a frente nas cadeiras, repetindo a palavra «apavorante» um para o outro vezes sem conta, e cada repetição parecia torná-la mais deliciosamente absurda.





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