A Década Perdida - Cap. 1: O PRIMEIRO DE MAIO Pág. 9 / 182

- Bom, vamos sair e tomar qualquer coisa. Quanto ao dinheiro, decido mais tarde. Estou farto do assunto. Vim para a costa leste para me divertir. Vamos até ao Yale Club - continuou, mal humorado. - Largaste o emprego. Não tens mais que fazer.

- Teria muito que fazer se tivesse algum dinheiro - disse Gordon mordaz.

- Pelo amor de Deus, acaba com o assunto durante um bocado! Não vale a pena estragares-me todo o passeio. Pega, toma lá algum dinheiro.

Tirou da carteira uma nota de cinco dólares e entregou-a a Gordon, que a dobrou cuidadosamente e a meteu no bolso. Havia um pouco mais de cor nas suas faces e um novo brilho no olhar, que não era de febre. Por um instante, antes de saírem, os olhos de ambos encontraram-se e nesse mesmo instante cada um deles descobriu qualquer coisa que o fez baixar rapidamente o olhar. Porque nesse instante, súbita e definitivamente, odiaram-se um ao outro.

II

A Quinta Avenida e a Rua 44 estavam apinhadas com a multidão do meio-dia. Um sol magnífico cintilava num dourado efémero através das montras das lojas elegantes, iluminando carteiras, bolsas e colares de pérolas nos seus estojos de veludo cinzento; garridos leques de penas de muitas cores; rendas e sedas de vestidos caros; quadros maus e as belas mobílias de estilo nas galerias de exposição dos decoradores de interiores.

Empregadas, aos pares e em grupos pequenos e grandes, paravam junto das montras, escolhendo o recheio das futuras casas nalguma exposição esplendorosa que incluía até pijamas de seda para homem negligentemente colocados em cima das camas. Deixavam-se ficar em frente das joalharias e escolhiam os anéis de noivado e as alianças, relógios de pulso em platina, e prosseguiam o seu caminho para apreciarem os leques de penas e os abafos de noite; entretanto, iam digerindo as sanduíches e os sorvetes que tinham comido ao almoço.





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