(3) Nada ocorreu, seja em Lerida, o sustentáculo principal do P.O.U.M., ou na linha de frente. E óbvio que se os dirigentes do P.O.U.M. quisessem ajudar os fascistas, teriam ordenado à sua milícia que se retirasse da linha de combate e deixasse os fascistas passar. Mas nada disso foi feito ou mesmo sugerido. Tampouco houve qualquer número extra de homens tirados da linha antecipadamente, embora fosse fácil mandar mil ou dois mil homens para Barcelona, utilizando-se pretextos diversos, se necessário. E não houve qualquer tentativa até mesmo de sabotagem indireta no front, o transporte de gêneros, munições e assim por diante continuou como sempre, e verifiquei isso pessoalmente. Acima de tudo, um levante planejado e do tipo sugerido requereria meses de preparativos, propaganda subversiva entre os milicianos, etc. Mas não existia qualquer sinal ou boato a respeito. O fato de que a milícia no front não desempenhasse qualquer papel no "levante" devia, por si só, mostrar-se concludente. Se o P.O.U.M. estivesse realmente planejando um coup d'état, é inconcebível que não utilizasse os dez mil homens armados que formavam a única força de ataque de que dispunha.
Com base nisso tornar-se-á suficientemente claro que a tese comunista de um "levante" do P.O.U.M. sob ordens fascistas tem apoio em menos do que falta de provas. Adicionarei mais algumas citações tiradas da imprensa vermelha. As narrativas comunistas sobre o incidente inicial, o ataque ao Centro Telefônico, mostram-se reveladoras, e não concordam em coisa alguma, entre si, senão em atribuir a culpa ao outro lado. É de notar-se que nos jornais comunistas ingleses a culpa é atribuída inicialmente aos anarquistas e somente depois ela vai recair sobre o P.O.U.M. Há um motivo bastante óbvio para isso: nem todos na Inglaterra ouviram falar em "trotskismo", enquanto que qualquer pessoa de fala inglesa estremece ao nome de "anarquista". Basta fazer saber que há "anarquistas" implicados na coisa e fica criada a atmosfera de preconceitos a que se visa; depois disso a culpa poderá ser tranquilamente transferida para os "trotskistas". Eis como o Daily Worker inicia (em 6 de maio) seu comentário da questão:
Um grupo minoritário de anarquistas, na segunda e na terça feira, tomou e procurou manter os edifícios de telefones e telégrafos, e começou a abrir fogo contra o povo nas ruas.