Certa manhã foi anunciado que os homens em minha enfermaria deveriam ser mandados a Barcelona naquele dia. Consegui enviar um telegrama à minha mulher, dizendo-lhe que estava a caminho, e logo eles nos levaram de ônibus, tocando para a estação. Foi somente quando o trem já partia que o ordenança do hospital, viajando em nossa companhia, disse de modo casual que não íamos para Barcelona, mas Tarragona. Acho que o maquinista mudara de ideia. "Bem espanhol!" pensei. Mas também foi bem espanhol que eles concordassem em reter o trem enquanto eu enviava outro telegrama, e mais espanhol ainda o fato de que o mesmo jamais chegou à destinatária.
Puseram-nos em carros de terceira classe, com bancos de madeira, e muitos dos homens estavam bastante feridos e deixaram o leito pela primeira vez aquela manhã. Não tardou que, com o calor e os solavancos, metade estivesse em estado de colapso e diversos vomitassem no chão. O ordenança do hospital andava em meio aos corpos espalhados por toda a parte, levando uma grande bolsa de água, feita com pele de cabra, que espirrava nesta ou naquela boca. Era uma água repulsiva, e ainda me lembro de seu paladar. Chegamos a Tarragona quando o sol se punha. O leito ferroviário percorre a costa a pouca distância do mar, e enquanto nosso comboio chegava à estação partia de lá um trem de tropas, cheio de homens da Coluna Internacional, havendo um bolo de pessoas na plataforma a lhes acenar. Era um trem muito comprido, inteiramente lotado de homens, com canhões nas gôndolas e mais homens em torno às peças de artilharia.