Parecia que um ataque estava para começar e eles poderiam necessitar de reservas a qualquer momento. No bolso eu trazia o bilhete do hospital, mas não podia recusar-me a ir com os outros. Deitei-me no chão, tendo por travesseiro uma caixa de munições e tomado por sensação de completo abatimento. O estar ferido eliminara minha coragem por completo - acredito que isso seja comum, por algum tempo, em situações idênticas - e a possibilidade de estar sob fogo assustava-me horrivelmente. Mas houve um pouco de mañana, como de costume, não fomos chamados para lutar, e na manhã seguinte apresentei o bilhete de hospital e saí à cata da baixa. Isso significava uma série de jornadas confusas e cansativas. Como sempre, mandavam-me de um para outro lugar, de um a outro hospital - Sietamo,
Barbastro, Monzon, depois volta a Sietamo para carimbarem minha baixa, depois pela linha de combate outra vez, passando por Barbastro e Lerida - e a convergência de tropas em Huesca monopolizara todos os transportes e desorganizara tudo. Lembro-me de ter dormido em lugares dos mais disparatados - uma vez em leito de hospital, e outra numa vala, depois num banco muito estreito sobre o qual caí em meio da noite, e de outra feita num tipo de pensão municipal em Barbastro. Quem se afastasse da estrada de ferro não tinha como viajar, a não ser apanhando carona em caminhões. Era preciso ficar à beira da estrada horas seguidas, até três ou quatro, com grupos de camponeses desconsolados que carregavam embrulhos cheios de patos e coelhos, fazendo sinal para caminhão após o outro. Quando finalmente se encontrava um desses veículos que não estivesse superlotado de homens, pão ou caixas de munição, os solavancos naquelas estradas infames reduzia o sujeito a uma almôndega. Nenhum cavalo me fez pular tanto quanto aqueles caminhões. O único meio de viajar era ficarmos todos bem juntos e agarrarmo-nos mutuamente. Para minha humilhação descobri estar ainda fraco demais para subir num caminhão sem ajuda alheia.
Dormi uma noite no Hospital de Monzon, onde fui ver a minha junta médica. Na cama a meu lado estava um Guarda de Assalto, ferido acima do olho esquerdo. Mostrou-se amigo e deu-me cigarros, e comentei com ele:
- Em Barcelona, teríamos feito fogo um sobre o outro.
Rimos bastante disso. Era estranho como o espírito geral parecia se modificar, ao chegar-se a qualquer ponto próximo da frente de luta. Ali se evaporava todo o ódio maligno dos partidos políticos, ou quase todo. Por todo o tempo que passei no front não me recordo de uma única vez na qual os membros do P.S.U.C. demonstrassem hostilidade pelo fato de eu ser P.O.U.M. Aquilo era uma coisa própria de Barcelona, ou de lugares ainda mais distantes da guerra.