Enquanto isso, não haviam "apanhado" minha esposa. Embora ela permanecesse no Continental, a polícia não tomara qualquer medida para prendê-la. Tornava-se bem claro que a usavam como chamariz, mas duas noites antes, pela madrugada, seis policiais à paisana invadiram nosso quarto e vasculharam tudo. Apoderaram-se de todos os papéis que possuíamos, com a afortunada exceção dos passaportes e livro de cheques. Levaram meus diários, nossos livros, recortes de jornais que se acumularam nos meses anteriores (muitas vezes procurei, em vão, imaginar de que lhes serviram esses recortes), os objetos que eu guardava como recordações da guerra, e todas as nossas cartas. (De passagem quero registrar que levaram bom número de cartas que eu recebera de leitores. Algumas não foram respondidas, e está claro que não mais disponho dos endereços. Caso alguém que tenha escrito acerca de meu último livro e não tenha recebido resposta leia estas linhas, peço aceitar minhas desculpas.) Mais tarde fiquei sabendo que a polícia também se apoderara de diversos pertences por mim deixados no Sanatório Maurin. Levaram até uma trouxa de roupas sujas, contando, talvez, encontrar nelas alguma coisa escrita com tinta invisível.
Tornava-se óbvio que, para minha esposa, era mais seguro continuar no hotel, pelo menos provisoriamente. Se procurasse fugir, partiriam logo em seu encalço. Quanto a mim, teria de seguir diretamente para um esconderijo, e isso me revoltava. A despeito das inúmeras prisões efetuadas, era-me quase impossível acreditar que estava em perigo.