A noite e com tempo enevoado eram mandadas patrulhas ao vale entre nós e os fascistas. Essa missão não desfrutava grande simpatia, pois fazia frio demasiado e era facílimo perder-se o caminho, e logo verifiquei que podia obter folga para sair em patrulha tantas vezes quantas quisesse. Naquelas ravinas imensas e de traçado irregular não havia trilhas ou rastos de qualquer tipo, e só se podia seguir caminho fazendo jornadas sucessivas e anotando os pontos observáveis de cada vez. Em linha reta, o posto fascista mais próximo estava a setecentos metros do nosso, mas essa distância estendia-se por 2.400 metros pela única passagem praticável. Era bastante divertido andar pelos vales escuros, com as balas perdidas passando muito acima da cabeça, como um escocês de saiote a assoviar. Melhor ainda do que à noite era fazê-lo durante o nevoeiro espesso, que muitas vezes durava todo o dia e costumava ficar preso em volta dos topos de morro, deixando os vales bem claros. Quando se estava nas proximidades das linhas fascistas, era preciso andar em passo de cágado, sendo bem difícil mover-se em silêncio naquelas encostas, entre os arbustos quebradiços e pedras que faziam ruído se pisadas. Foi apenas na terceira ou quarta tentativa que consegui achar o caminho para as linhas fascistas. O nevoeiro estava bem denso, e subi até ao arame farpado para escutar. Dava para ouvir os fascistas conversando e cantando lá dentro. Depois disso, descobri com alarme que diversos deles vinham descendo o morro em minha direção. Encolhi-me atrás de um arbusto que repentinamente parecera tornar-se pequeno demais, e procurei engatilhar o fuzil sem barulho. Mas eles tomaram outro rumo e não chegaram a um ponto do qual pudessem me descobrir.