Homenagem à Catalunha - Cap. 5: Capítulo 5 Pág. 46 / 193

Todos os instrumentos agrícolas eram coisas deploravelmente antiquadas. Sendo tudo governado pelo valor do metal usado. Uma relha de arado, por exemplo, mostrava-se emendada, e depois recebera nova emenda, a ponto de se formar quase exclusivamente de remendos. Ancinhos e terçados eram feitos de madeira. As pás, entre gente que raramente tinha botinas para calçar, eram instrumentos desconhecidos, e aqueles homens cavavam o chão com uma enxada primitiva, como as utilizadas na Indica. Havia uma espécie de grade que devia datar da parte final da Idade da Pedra, formada de tábuas reunidas, com o tamanho aproximado de uma mesa de cozinha. Nessas tábuas havia centenas de furos de encaixe, em cada qual se achava enfiado um pedaço de pedra lascada, modelado exatamente como os homens o costumavam lascar há milhares de anos. Lembro-me que senti quase horror ao encontrar um engenho daqueles em tapera abandonada, na terra de ninguém. Foi preciso dar tratos à bola por bastante tempo, até compreender que se tratava de uma grade. Desgostou-me pensar no trabalhão que fora preciso para construir uma coisa daquelas, e na pobreza que se via obrigada a usar pedra lascada em lugar de aço. Depois disso passei a abrigar sentimentos melhores para com o industrialismo. Mas existiam naquela aldeia dois tratores modernos, certamente tomados de algum latifúndio.

Uma ou duas vezes dirigi-me até ao pequeno cemitério amurado que distava mais ou menos quilômetro e meio da aldeia. Os mortos da linha de frente eram geralmente mandados para Sietamo, e ali repousavam, apenas, os mortos da aldeia. Como era bizarramente diferente de um cemitério inglês! Ali não se encontrava qualquer sinal de deferência para com os mortos. Tudo estava tomado de arbustos e grama, vendo-se ossos humanos espalhados por toda a parte. Mas o que realmente me surpreendeu foi a falta quase completa de inscrições religiosas nas lápides, embora todas datassem de antes da revolução. Apenas uma vez, se não me engano, vi o "Orai pela alma de Fulano , que e comum encontrar nas sepulturas católicas. A maioria das inscrições era puramente secular, com poemas ridículos a respeito das virtudes do falecido. Era uma sepultura, em cada quatro ou cinco, via-se uma pequena cruz ou referência perfuntória ao Céu, que via de regra fora arrancada por algum ateu, equipado com talhadeira e disposição.





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