Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 6: Capítulo 6

Página 55
O desgraçado não queria sair! Finalmente compreendi que o estava torcendo na direção errada. Retirei o pino, fiquei de joelhos, atirei a bomba e mergulhei de volta no chão. A bomba estourou à direita, fora do parapeito. O susto estragara minha pontaria. Naquele exato momento outra bomba explodiu bem à minha frente, tão perto que pude sentir o calor da explosão. Achatei-me no chão e enterrei o rosto na lama com tanto vigor que machuquei o pescoço e pensei estar ferido. Em meio àquela zoada, ouvi alguém dizer calmamente, em inglês, atrás de mim:

- Estou ferido.

A bomba, na verdade, atingira diversos homens perto de mim, sem me alcançar. Ajoelhei-me e atirei outra, e não me recordo para onde ela foi.

Os fascistas faziam fogo, nossos companheiros lá atrás também, e eu tinha plena consciência de estar no meio, entre eles. Senti o impacto de um disparo bem perto e compreendi que um homem estava abrindo fogo logo atrás de mim. Levantei-me e berrei com ele:

- Não atire em mim, seu idiota!

Nesse momento vi que Benjamin, a dez ou quinze metros para a direita, gesticulava. Corri para lá, e isso obrigava a atravessar aquela linha de seteiras e despejar fogo, e naquela trajetória infame mantive a mão esquerda a tapar a face, gesto dos mais idiotas - como se a mão pudesse deter uma bala! - mas causava-me pavor a ideia de ser atingido na cara. Benjamin estava ajoelhado e apresentava expressão ao mesmo tempo satisfeita e diabólica, enquanto disparava meticulosamente sobre os clarões de fuzil, com sua pistola automática. Jorge caíra ferido aos primeiros tiros, e estava em algum lugar que não se podia ver. Ajoelhei-me ao lado de Benjamin, tirei o pino de minha terceira bomba e arremessei-a. Ah! Nada de dúvidas, dessa feita. Ela explodiu dentro do parapeito, na quina do "L", exatamente no ninho de metralhadora.

O fogo fascista pareceu ter afrouxado de modo bem repentino. Benjamin se pôs de pé com um salto e gritou:

- A frente! Atacar!

Partimos em carreira pela encosta curta e íngreme, ao final da qual estava o parapeito fascista. Eu digo "carreira", mas "arrasto" seria mais correto. O fato é que não se pode andar ligeiro quando se está encharcado e enlameado dos pés à cabeça, e carregando um fuzil e baioneta pesados, e mais cento e cinqüenta cartuchos. Eu estava possuído pela convicção naturalíssima de que haveria um fascista à minha espera lá em cima. Se ele disparasse àquela distância, não poderia deixar de me acertar, mas ainda assim contava que ele não o fizesse, para poder pegar-me com sua baioneta. Sentia de antemão o cruzar de nossas baionetas e imaginava se ele teria braço mais forte do que o meu.

<< Página Anterior

pág. 55 (Capítulo 6)

Página Seguinte >>

Capa do livro Homenagem à Catalunha
Páginas: 193
Página atual: 55

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 12
Capítulo 3 19
Capítulo 4 32
Capítulo 5 39
Capítulo 6 51
Capítulo 7 64
Capítulo 8 70
Capítulo 9 81
Capítulo 10 105
Capítulo 11 130
Capítulo 12 142
Capítulo 13 157
Capítulo 14 173