O apelo da floresta - Cap. 5: Capítulo 5 Pág. 58 / 99

Buck sentia vagamente que nunca poderiam depender daqueles dois homens e daquela mulher. Não sabiam fazer nada e, à medida que os dias passavam, tudo indicava que nunca o aprenderiam. Eram desleixados em tudo, sem ordem nem disciplina. Levavam metade da noite a armar um acampamento sem jeito nenhum e metade da manhã a levantá-lo e a carregar o trenó, mas de um modo tão descuidado que o resto do dia se passava em paragens contínuas para ajustarem a bagagem. Havia dias que não faziam nem dez milhas. Outros, em que não chegavam sequer a partir. E nenhum houve em que chegassem a fazer metade da distancia considerada básica nos cálculos para a alimentação dos cães.

Era inevitável que, mais dia menos dia, lhes viria a faltar a comida para os animais. Para mais, que eles os super alimentavam, apressando o dia em que deixariam de ter que comer. Os novos cães, cujas digestões não haviam sido treinadas pela fome crónica a tirar o máximo proveito de um mínimo, tinham um apetite voraz. E quando, ainda por cima, os cães-lobos, derreados, começaram a puxar cada vez menos, Hal decidiu que a ração habitual era pequena de mais, e duplicou-a. Ei para cúmulo de tudo isto, quando Mercedes, os bonitos olhos marejados de lágrimas e a voz trémula, não conseguia convencê-lo a dar ainda mais comida aos cães, ela própria ia roubar o peixe às sacas e, às escondidas, distribuía-o. Porém, não era de comida que Buck e os cães-lobos estavam necessitados, mas de descanso, pois, apesar das médias ridículas que faziam, a pesada carga que tinham de rebocar minava-lhes cruelmente as forças.

Até que o racionamento chegou. Hal abriu, um dia, os olho para o facto de as provisões se encontrarem reduzidas a metade e só com um quarto da distancia percorrida. Não tinham, além disso, qualquer possibilidade de arranjar mais comida para o cães. Resolveu por isso cortar até na ração habitual e tentar melhorar as médias. A irmã e o cunhado secundaram-no, mas depressa se sentiram frustrados nos seus propósitos, tanto pela monstruosa bagagem como pela sua própria incompetência.