O apelo da floresta - Cap. 7: Capítulo 7 Pág. 84 / 99

Reconheceu-a como sendo uma espingarda da Companhia da Baia de Hudson dos velhos tempos do Noroeste, em que tais espingardas valiam o seu peso em peles de castor bem calcadas. E era tudo — sem nada que desvendasse o mistério do homem que uma madrugada saíra da cabana, deixando atrás de si a arma envolta nos cobertores.

De novo veio a Primavera, e ao cabo de tanto vaguear encontraram num extenso vale, não a Cabana Perdida, mas uma terra de aluvião, cujo ouro se amontoava como manteiga da mais amarela no fundo da vasilha. Não procuraram mais longe. Cada dia de trabalho rendia-lhes milhares de dólares, em pó e pepitas, e todos os dias trabalhavam.

O ouro era metido em sacos de pele de veado, de vinte e cinco quilos cada um, e empilhado à laia de toros junto à cabana de madeira de abeto. Trabalhavam como mouros, os dias passando-se num sonho, à medida que acumulavam o tesouro.

Nada havia em que ocupar os cães, além de os fazer transportar a caça que Thornton de vez em quando matava, e Buck passava horas esquecidas a cismar junto da fogueira. A visão do homem atarracado e peludo ocorria-lhe com maior frequência, agora, que se encontrava menos ocupado; e muitas vezes, piscando os olhos ao calor das chamas, Buck vagueava com ele por aquele outro mundo de que ele se recordava.

A coisa mais relevante desse outro mundo parecia ser o medo. Quando observava o homem peludo a dormitar junto da fogueira, a cabeça entre os joelhos e as mãos enclavinhadas sobre ela, Buck notava que ele dormia um sono inquieto, cheio de sobressaltos e acordando várias vezes para espreitar, atemorizado, a escuridão e deitar mais lenha na fogueira. Se passeavam na praia, junto ao mar, onde o homem peludo ia apanhando marisco, que imediatamente tragava, era com os olhos sondando o perigo oculto que ele o fazia e com as pernas preparadas para fugir como o vento, acaso ele surgisse.





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