Percorriam ambos a floresta sem qualquer ruído, Buck colado aos calcanhares do homem peludo; e ambos se conservavam alerta e vigilantes, as orelhas seguindo os ruídos e as narinas frementes pois o homem tinha o ouvido e o faro tão apurados como Buck. O homem peludo costumava também trepar às árvores e deslocar-se por entre elas tão depressa como no chão, suspendendo-se pelos braços de pernada em pernada, por vezes afastadas de três metros, largando uma e apanhando logo outra, nunca falhando no seu movimento. De facto, parecia tão à vontade em cima das árvores como no chão; e Buck recordava noites de vigília passadas sob as árvores em que o homem peludo, bem agarrado, se empoleirava para dormir.
E de efeito muito semelhante ao das visões do homem peludo era o apelo, que continuava a soar das profundezas da floresta. Enchia-o de grande desassossego e desejos estranhos. Causava-lhe um sentimento vago e doce de alegria e despertava-lhe ânsias e agitações não sabia bem porquê. Acontecia-lhe por vezes seguir o apelo através da floresta, procurando-o como se se tratasse de algo de tangível em tom baixo ou provocador, conforme a disposição no momento. Enterrava o focinho no musgo fresco das árvores, ou no solo negro onde crescia a erva alta, e resfolgava de prazer com os cheiros untuosos da terra; ou, então, agachava-se durante horas, como quem se esconde, atrás dos troncos de árvores caldas e cobertas de fungos, de olhos bem abertos e ouvidos à escuta, dando conta de tudo o que se movia e fazia barulho à sua volta. Podia ser que, assim escondido, esperasse surpreender aquele apelo com que não atinava. No entanto, não sabia porque fazia todas estas coisas. Era impelido a fazê-las, e de modo algum procurava a razão por que as fazia.
Irresistíveis impulsos se apoderavam dele. Acontecia-lhe estar deitado no acampamento, a dormitar preguiçosamente ao sol, quando de repente, erguendo a cabeça e arrebitando as Grelhas, atento e ouvido à escuta, se levantava de um pulo e partia veloz, correndo sem destino e durante horas pelas veredas da floresta e espaços abertos, onde as peónias cresciam a esmo.