Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 3: III Pág. 135 / 273

Arrepender-se-ão, com efeito: e essa é a segunda ferroada do verme da consciência, um remorso tardio e inútil pelos pecados cometidos. A justiça divina insiste em que o entendimento daqueles miseráveis desgraçados se fixe continuamente nos pecados de que são culpados e, além disso, como observa Santo Agostinho, Deus transmite-lhes o Seu conhecimento do pecado, de modo que o pecado se lhes afigure em toda a sua hedionda fealdade, tal como se afigura aos olhos de Deus. Eles contemplarão os seus pecados em todo o seu horror e arrepender-se-ão, mas será tarde demais e chorarão as boas oportunidades que negligenciaram. Esta é a última, a mais profunda e mais cruel ferroada do verme da consciência. A consciência dir-lhes-á: Tivestes tempo e oportunidade de vos arrependerdes e não o fizestes. Fostes criados religiosamente pelos vossos pais. Recebestes os sacramentos e as graças e indulgências da Igreja, para vos ajudarem. Tivestes o ministro de Deus que vos ensinou, que vos chamou ao rebanho depois de vos tresmalhardes, que vos perdoou os vossos pecados, por muito grandes que fossem, por muito abomináveis, desde que os confessásseis e vos arrependêsseis. Não. Não o fizestes. Zombastes dos monstros da santa religião, voltastes as costas ao confessionário, atolaste-vos cada vez mais profundamente no lamaçal do pecado. Deus chamou-vos, ameaçou-vos, implorou-vos que regressásseis a Ele. Oh, que vergonha, que desgraça! O Senhor do universo implorou-vos, a vós, criaturas de barro, que amásseis Aquele que vos criou e cumprísseis as Suas leis. Não. Não quisestes. E agora, mesmo que inundásseis todo o Inferno com as vossas lágrimas, se ainda conseguísseis chorar, nem todo esse mar de arrependimento vos alcançaria aquilo que uma única lágrima de verdadeiro arrependimento derramada durante a vossa vida mortal vos teria alcançado.




Os capítulos deste livro