Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 3: III Pág. 140 / 273

Oh, que castigo terrível! Uma eternidade de infindável agonia, de infindáveis tormentos físicos e espirituais, sem um raio de esperança, sem um momento de trégua, de uma agonia de intensidade ilimitada, dum tormento infinitamente diversificado, de uma tortura que conserva por toda a eternidade aquele que eternamente devora, de uma angústia que eternamente depreda o espírito enquanto suplicia a carne, uma eternidade, cada instante da qual é, só por si, uma eternidade de sofrimento. Tal é o terrível castigo decretado, para aqueles que morrem em pecado mortal, por um Deus todo poderoso e justo.

«Sim, um Deus justo! Os homens, raciocinando como homens que são, espantam-se de que Deus possa impor um castigo eterno e infinito, no fogo do Inferno, por causa de um simples pecado grave. Raciocinam assim porque, cegos pela imensa ilusão da carne e pelas trevas do entendimento humano, não conseguem apreender a hedionda fealdade do pecado mortal. Raciocinam assim porque são incapazes de entender que até mesmo o pecado venial tem uma natureza de tal forma hedionda que, mesmo que o Criador omnipotente pudesse pôr fim a todo o mal e infelicidade deste mundo, às guerras, às doenças, aos roubos, aos crimes, às mortes, aos assassínios, com a condição de permitir que um único pecado venial ficasse sem castigo, um único pecado venial, uma mentira, um olhar irado, um momento de preguiça voluntária, Ele, o grande Deus omnipotente não o poderia fazer, porque o pecado, seja ele por pensamentos ou por obras, é uma transgressão da Sua lei e Deus não seria Deus se não castigasse o infractor.

«Um pecado, um instante de orgulho rebelde do intelecto, fez que Lúcifer e um terço da coorte dos anjos se despenhassem da sua glória. Um pecado, um instante de loucura e de fraqueza, fez que Adão e Eva fossem expulsos do Paraíso e trouxessem ao mundo a morte e o sofrimento.





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