Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 4: IV Pág. 158 / 273

Acreditava cada vez mais em tudo isto, e com entusiasmo, por causa das trevas e do silêncio divino onde residia o invisível Paracleto, cujos símbolos eram uma pomba e um vento poderoso, e contra quem o pecado era imperdoável, o Ser eterno, misterioso e secreto, a quem, como a Deus, os sacerdotes ofereciam uma missa uma vez por ano, com os paramentos escarlates das línguas de fogo.

As imagens através das quais a natureza e parentesco das Três Pessoas da Trindade eram obscuramente representadas nos livros de orações que lia - o Pai a contemplar, por toda a eternidade, como num espelho, as Suas Perfeições Divinas e, por isso, concebendo eternamente o Filho Eterno, e o Espírito Santo procedendo do Pai e do Filho por toda a eternidade - eram mais facilmente aceitáveis pela sua mente, em virtude da sua augusta incompreensibilidade, do que o simples facto de Deus ter amado a sua alma por toda a eternidade, durante séculos antes de ele ter vindo a este mundo, durante séculos ainda antes de o próprio mundo existir.

Tinha ouvido pronunciar solenemente os nomes de paixões como o amor e o ódio, no palco e no púlpito, tinha-as encontrado solenemente escritas em livros, e perguntava a si mesmo por que motivo a sua alma era incapaz de as albergar durante algum tempo ou de forçar os seus lábios a pronunciá-las com convicção. Tinha sentido, por vezes, uma breve ira, mas esta nunca se transformara numa paixão duradoura, e sempre sentira que ela o abandonava como se o seu corpo despisse facilmente uma pele ou uma casca exteriores. Tinha sentido uma presença subtil, sombria e múrmure penetrar no seu ser e incendiá-los com um desejo breve e iníquo; também ela se tinha escapado do seu alcance, deixando a sua mente lúcida e indiferente.





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