Abriu a porta do anfiteatro e deteve-se, na claridade gélida e cinzenta que tentava atravessar as janelas sujas. Havia uma figura acocorada diante da larga grade e, pela sua magreza e pelos cabelos grisalhos, percebeu que se tratava do deão dos estudos que estava a acender o lume.
Stephen fechou a porta sem ruído e aproximou-se da chaminé. - Bom dia, padre. Posso ajudá-lo?
O padre ergueu rapidamente o olhar e disse:
- É só um momento, Mr. Dedalus, e já vai ver. É preciso arte para acender o fogo. Há as artes liberais e as artes práticas. Esta é uma das artes práticas.
- Vou tentar aprendê-la - disse Stephen.
- Não se pode pôr carvão de mais - disse o deão, prosseguindo activamente na sua tarefa. - Esse é um dos segredos.
Retirou quatro tocos de vela dos bolsos laterais da sotaina e colocou-os habilmente entre os pedaços de carvão e os papéis amachucados. Stephen observava-o em silêncio. Assim ajoelhado sobre as lajes, para acender o fogo e ocupando-se da disposição dos seus pedaços de papel e das suas velas, o padre parecia, mais do que nunca, um humilde servidor a preparar o local do sacrifício num templo vazio, um levita do Senhor. Como a túnica de linho simples de um levita, a sotaina desbotada e poida envolvia a figura ajoelhada de um homem a quem os trajos canónicos ou os paramentos bordados incomodariam e perturbariam. Todo o seu corpo tomara um tom ceroso e envelhecera ao humilde serviço do Senhor - a ocupar-se do fogo do altar, a entregar mensagens secretas, a servir as pessoas mundanas, a atacar num bote rápido quando lho ordenavam - e, todavia, não adquirira a graça da santidade ou da beleza prelatícia.