Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 5: V Pág. 228 / 273

Corresponderão elas às fases de apreensão? Estás a seguir o meu raciocínio?

- É claro que estou - disse Lynch. - Se pensas que eu tenho uma inteligência de excremento corre atrás do Donovan e pede-lhe que te escute.

Stephen apontou para um cesto que um empregado do talho enfiara, invertido, na cabeça.

- Olha para aquele cesto - disse.

- Estou a vê-lo - disse Lynch.

- Para ver aquele cesto - disse Stephen -, a tua mente, em primeiro lugar, separa o cesto do resto do universo visível que não seja o cesto. A primeira fase de apreensão é uma linha de delimitação em torno do objecto a apreender. É-nos apresentada uma imagem estética tanto no espaço como no tempo. O que é audível é apresentado no tempo, o que é visível é apresentado no espaço. Mas, temporal ou espacial, a imagem estética é, em primeiro lugar, luminosamente apreendida como algo autodelimitado e autocontido sobre o fundo incomensurável do espaço ou do tempo que não é essa imagem. Capta-la como uma coisa. Vê-la como um todo. Apreendes a sua inteireza. Isso é a integritas.

- Em cheio! - disse Lynch, rindo. - Continua.

- Depois - disse Stephen -, passas de ponto em ponto, seguindo as suas linhas de forma; apreendes a imagem equilibrada, parte por parte, dentro dos seus limites; sentes o ritmo da sua estrutura. Por outras palavras, à síntese da percepção imediata segue-se a análise da apreensão. Tendo-te apercebido em primeiro lugar de que era uma coisa, sentes agora que é uma coisa. Apreendeste-a como algo complexo, múltiplo, divisível, separável, constituído por partes, harmonioso no resultado das partes e na sua soma. Isso é consonantia.

- Em cheio de novo! - disse Lynch espirituosamente. Agora, explica-me o que é a claritas e ganhas um charuto.





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