Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 5: V Pág. 259 / 273

Acreditavas nela quando andaste no liceu? Aposto que sim.

- Acreditava - respondeu Stephen.

- E eras mais feliz nessa altura? - perguntou Cranly com voz suave. - Mais feliz do que agora, por exemplo?

- Era muitas vezes feliz - disse Stephen - e muitas vezes infeliz. Nessa altura, eu era outra pessoa.

- Outra pessoa como? Que queres dizer com essa frase?

- Quero dizer - respondeu Stephen - que não era como sou agora, aquele que viria a ser.

- Não como és agora, não como virias a ser - repetiu Cranly.

- Deixa-me fazer-te uma pergunta. Amas a tua mãe?

Stephen abanou lentamente a cabeça.

- Não sei o que significam as tuas palavras - respondeu com simplicidade.

- Nunca amaste ninguém? - perguntou Cranly.

- Referes-te a mulheres?

- Não estou a falar disso - disse Cranly num tom mais frio.

- Pergunto-te se já alguma vez sentiste amor por alguém ou alguma coisa.

Stephen continuou a caminhar ao lado do amigo, fitando sombriamente o passeio.

- Tentei amar Deus - disse finalmente. - Parece-me que Falhei. É muito difícil. Tentei unir a minha vontade à de Deus, momento a momento. Nisso, nem sempre falhei. Talvez ainda o pudesse fazer...

Cranly interrompeu-o, perguntando: - A tua mãe teve uma vida feliz?

- Como hei-de saber? - inquiriu Stephen.

- Quantos filhos teve ela?

- Nove ou dez - respondeu Stephen. - Alguns morreram.

- O teu pai era... - Cranly interrompeu-se por um instante. Depois disse:

- Não pretendo intrometer-me nos assuntos da tua família. Mas o teu pai era o que se costuma chamar abastado? Quero dizer, quando eras pequeno.

- Era - disse Stephen.

- O que é que ele era? - perguntou Cranly, após uma pausa.

Stephen começou a enumerar fluentemente os atributos do seu pai.





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