- Nesse caso - disse Mr. Casey -, é uma história muito instrutiva. Passou-se há pouco tempo no condado de Wicklow, onde nos encontramos.
Interrompeu-se e, voltando-se para Dante, disse, com calma indignação:
- E devo dizer-lhe, minha senhora, que, se se referia a mim, não sou um católico renegado. Sou tão católico como o meu pai e o meu avô foram antes de mim, e o pai do meu avô antes dele, quando preferimos perder as nossas vidas a perder a nossa fé.
- Maior vergonha é para si, então - disse Dante -, falar como fala.
- A história, John - disse Mr. Dedalus sorrindo. - Venha de lá essa história.
- Católico, esta é boa! - repetiu Dante, com ironia. - O mais negro protestante do país não usaria a linguagem que aqui ouvi esta noite.
Mr. Dedalus começou a abanar a cabeça para um lado e para o outro, cantarolando como um cantor da aldeia.
- Eu não sou protestante, volto a dizer-lho - disse Mr. Casey, corando.
Mr. Dedalus, ainda a abanar a cabeça, começou a cantar, num tom nasalado:
Oh, vinde rodos vós, católicos romanos
Que nunca fostes a uma missa.
Pegou nos talheres, novamente de bom humor, e recomeçou a comer, dizendo a Mr. Casey:
- Vamos lá a ouvir a tal história, John. Vai ajudar-nos a fazer a digestão.
Stephen olhou com afecto para o rosto de Mr. Casey, que via do outro lado da mesa, pousado sobre as mãos unidas. Gostava de se sentar ao lado dele, junto da lareira, e de olhar para o seu rosto moreno e feroz. Mas os seus olhos escuros nunca estavam enfurecidos e gostava de escutar a sua voz lenta. Mas porque estaria ele, então, contra os padres? A Dante devia ter razão. Mas ele tinha ouvido o pai dizer que ela era uma freira renegada, e que tinha saído do convento nos Alleghanies, mal o irmão arranjara dinheiro dos selvagens, vendendo-lhes bugigangas e correntes.