Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 1: I Pág. 33 / 273

E, nessa noite, Mr. Casey não tinha ido para Dublim de comboio; um carro parara à porta e ele ouvira o pai dizer qualquer coisa acerca de estrada de Cabinteely.

Ele defendia a Irlanda e Parnell, e o seu pai também; e Dante também, porque, uma noite, ao ouvir a banda na esplanada, batera com a sombrinha na cabeça de um homem, por ele ter tirado o chapéu, quando a banda tocara, no final, God save the Queen.

Mr. Dedalus soltou uma risada de desdém.

- Ah, John - disse. - Eles têm razão. Somos uma raça desgraçada, oprimida pelos padres; sempre assim foi e sempre assim será até ao fim dos tempos.

O tio Charles abanou a cabeça, dizendo: - Mau negócio! Mau negócio!

Mr. Dedalus repetiu:

- Uma raça oprimida pelos padres e abandonada por Deus! Apontou o retrato do seu avô, pendurado na parede, à sua direita.

- Está a ver aquele sujeito além, John? - disse. - Era um bom irlandês, no tempo em que não havia dinheiro metido no negócio. Foi condenado à morte por ser um whiteboy. Mas costumava dizer, a propósito dos nossos amigos padres, que nunca permitira que um deles pusesse os pés em sua casa.

Dante interrompeu, irada:

- Se somos uma raça oprimida pelos padres, deveríamos sentir orgulho disso! Eles são a menina dos olhos de Deus. «Não deveis tocar-lhes», disse Cristo, «porque eles são as meninas dos meus olhos». - Então, não podemos amar a nossa terra? - perguntou Mr. Casey. - Não devemos seguir o homem que nasceu para nos conduzir?

- Um traidor à pátria! - replicou Dante. - Um traidor, um adúltero! Os padres tiveram razão em abandoná-lo. Os padres sempre foram verdadeiros amigos da Irlanda.

- Ai foram? - disse Mr. Casey.

Bateu com o punho na mesa e, franzindo furiosamente o sobrolho, começou a espetar os dedos, um após outro.





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