Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 1: I Pág. 37 / 273

Por isso, os rapazes lhe pareciam mais pequenos e mais distantes e os postes da baliza lhe pareciam tão finos e distantes e o céu de um cinzento suave tão alto. Mas ninguém jogava no campo de râguebi, porque iam começar as partidas de críquete: e alguns diziam que o Barnes ia ser o monitor e outros que seria o Flowers. E por todo o pátio se treinavam os movimentos do jogo. Ouviam-se, de todos os lados, os sons dos tacos de críquete que atravessavam o ar cinzento suave. Faziam pingue, pingue, pingue: gotas de água de uma fonte, caindo lentamente na bacia a transbordar.

Athy, que tinha estado calado, disse em voz baixa:

- Estão todos enganados.

Todos se voltaram ansiosamente para ele. - Porquê?

- Tu sabes?

- Quem te disse?

- Conta lá, Athy.

Athy apontou para o local do pátio onde Simon Moonan andava a passear sozinho, dando pontapés a uma pedra.

- Perguntem-lhe a ele - disse.

Os rapazes olharam para o outro e disseram:

- A ele, porquê?

- Ele está metido no caso?

Athy baixou a voz e disse:

- Sabes porque é que eles fugiram? Vou contar-lhes, mas têm de fingir que não sabem.

- Diz lá, Athy. Anda lá. Se é que sabes alguma coisa. Ele fez uma pausa e depois disse, misteriosamente:

- Foram apanhados com o Simon Moonan e o Boyle Colmilhos, uma noite na retrete.

Os rapazes olharam para ele e perguntaram:

- Apanhados?

- A fazer o quê?

Athy disse:

- A «brincar».

Os rapazes ficaram todos em silêncio. Athy disse:

- E foi por isso.

Stephen olhou para as caras dos outros, mas todos olhavam para o outro lado do pátio. Queria perguntar a alguém o que era aquilo. Que quereria dizer aquilo de os rapazes estarem a brincar na retrete? Por que teriam de fugir os cinco rapazes mais velhos por causa disso? Devia ser uma graçola, pensou.





Os capítulos deste livro